sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

Quem eram os seis milhões

Campo I de Auschwitz

Campo II - Birkenau
Há tempos, principalmente nos meios de comunicação se repetem números errôneos sobre as perdas humanas na Polônia durante a segunda guerra mundial.

Foram 6 milhões, os polacos mortos...e não, seis milhões de judeus como se repete exaustivamente. Os números, a seguir, são baseados em registros alemães e pesquisados por historiadores de vários países (inclusive acadêmicos alemães).

Segundo o historiador polaco Czesław Madejczyk, autor de vários livros sobre a II Guerra Mundial e baseado em arquivos dos próprios alemães nazistas ocupantes foram: 2.700.000 polacos de origem judaica mortos na segunda II Guerra Mundial na Polônia.

Estes 2,7 milhões estão divididos em 500 mil mortos nos guetos da principais cidades, 200 mil em execuções em massa e 2 milhões nos campos de concentração e extermínio alemão.

Madejczyk especifica ainda que destes 2,7 milhões:
1.600.000 foram mortos nos campos de Treblinka, Sobibór, Bełżec, Majdanek e Chełmno.
1.100.000 em Auschwitz e Birkenau.

O Museu de Aschwitz apresenta em um painel de um dos pavilhões do campo I a seguinte estatística: - 1.100.000 polacos de origem judaica,
- 150.000 polacos de origem eslava (entre estes, padres católicos e oficiais do exército polaco),
- 23.000 polacos ciganos,
- 15.000 soldados soviéticos,
- 25.000 prisioneiros de outras etnias.

Destes 1.100.000 de Auscwitz, 100.000 foram mortos pela SS nazista.

Na liberação do campo de Auschwitz, em 27 de janeiro de 1945, foram encontrados ainda vivos:
- 67.012 prisioneiros no campo I (Auschwitz),
- 31.894 no campo II (Birkenau)
- e outros 35.118 em outros sub-campos menores (Monovitz e outros na região da cidade de Oświęcin).

Com os 2.700.000 de polacos de origem judaica (antes da guerra existia uma população de 3.300.000 pessoas polacas de origem judaica - os judeus começaram a chegar a Polônia mil anos antes da II Guerra Mundial) e mais outros 3.300.000 de polacos de origem eslava (coincidência de números com a população polaca de origem judaica) a soma de perdas polacas dá 6 milhões de mortos.
Estes 55% dos mortos eram polacos de origem eslava (católicos romanos, ortodoxos, protestantes e de outras religiões e etnias).

Da população que sobreviveu na Polônia, após o fim da II Guerra Mundial, 530 mil ficaram permanentemente inválidas, sendo que 40.179 delas resultado de experimentos médicos comandados por Józef Mengele, 60 mil ficaram débeis mentais.

Além dos 6 milhões de mortos durante a guerra, outro 1 milhão morreu após, de enfermidades contraídas no nefasto período.

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

Continuam as reações em Israel a Lei polaca que pune mentira

A revista semanal polaca "Polityka" continua dando cobertura às repercuções, principalmente em Israel, a lei proposta pelo IPN (sigla em polaco para Instituto da Memóra Nacional) sobre quem mentir sobre a verdadeira denominação dos campos de concentração e extermínio alemão nos territórios da Polônia, chamado-os não de alemão, mas de polacos.
Nesta reportagem, a seguir, há um apanhado de declarações dadas a jornais e portais israelenses, por deputados e autoridades de Israel de inclinação direitista e algumas de autoridades outras na França e Estados Unidos.

Até que ponto a Lei é correta e em que medida ela realmente afeta as relações bilaterais entre Polônia e Israel e o que pode fazer o Tribunal Constitucional polaco sobre a questão são as principais questões discutidas até aqui.

Manchete da Polityka:
Reações no exterior após a decisão de Andrzej Duda em relação à Lei sobre o IMN: "Triste Dia"


Apesar da reação moderada do governo israelense, há agitação nos meios de comunicação e nas fileiras de oposição do Knesset.

Pessoas de todo o mundo escrevem sobre o assunto. A decisão de Andrzej Duda sobre a sanção da emenda à Lei sobre o Instituto de Memória Nacional provocou uma avalanche de comentários no exterior. Muito espaço foi dedicado na mídia israelense.

O liberal jornal "Haaretz" avaliou que o discurso do presidente polaco era "equilibrado, delicado e refletiu a complexidade do tema". Mas sua decisão continua a ser crítica e espera que a crise se intensifique entre Israel e Polônia (os países deveriam criar equipes conjuntas para discutir essas questões).

Reações israelenses à alteração da Lei proposta pelo Instituto da Memória Nacional aconteceram em vários locais, o portal "Times of Israel" cita Efraim Zuroff, rastreador nazista mundialmente famoso, chefe do Centro Szymon Wiesenthal, em Israel: "O caso com a Polônia é realmente a ponta do iceberg. Esta montanha existe há muitos anos ".

Ironicamente, Zuroff pensa que "o governo israelense decidiu denunciar a lei sobre a cumplicidade no Holocausto, mas nunca criticou países como Lituânia, Letônia, Estônia, Ucrânia, Croácia ou Hungria, que desempenharam um papel mais ativo e ajudaram os nazistas no genocídio Judeus durante a Segunda Guerra Mundial, durante décadas negligenciando sua culpa ". Zuroff afirma: "Israel nunca reagiu à distorção do Holocausto".

E essa distorção foi influenciada por duas circunstâncias. Primeiramente, capturar ou minimizar o papel de colaboradores locais. Em segundo lugar, acredita-se que o comunismo é tão ruim quanto o nazismo e que deve ser classificado como genocídio. "Se o comunismo é classificado como genocídio, significa que os judeus cometem o genocídio. (...) É uma ótima estratégia para repelir a crítica de seus crimes, suscitar simpatia com as vítimas de genocídio e silenciar a crítica judaica ".

O jornal "Jerusalem Post" cita o vice-chefe da diplomacia israelense: "Israel explicou ao governo polaco que não aceitaria nenhuma lei que silenciasse a história e apagasse os depoimentos do envolvimento dos polacos no assassinato de judeus durante o Holocausto". Israel continuará a trabalhar através dos canais diplomáticos para introduzir mudanças na lei antes que seja analisada pelo Tribunal Constitucional.

O diretor da Associação dos judeus europeus citado pelo rabino Menachem Margolin anuncia que sua organização iniciará o procedimento legal em resposta às ações do Tribunal polaco. Andrzej Duda foi convidado a conhecer representantes de organizações judaicas, "mas ele decidiu, estranhamente, que não era necessário".
Margolin dirigiu uma carta a todas as instituições da UE com um apelo para criticar a Polônia nesta matéria. "Parece inconcebível que um Estado-Membro da UE reduza a história ao impor uma legislação draconiana que poderia aprisionar por ter uma visão alternativa do que aconteceu nos dias mais sombrios da Europa".

O Dr. Eithan Orkibi, sociólogo e antropólogo da Universidade de Ariel, em um comentário ao "Israel Ha-Jom", aponta que a controvérsia sobre a Lei sobre Holocausto não pode encobrir o precioso trabalho das gerações.
Ele lembra "Ida" e "Nasza Klase", filmes sobre como "a sociedade polaca contemporânea debruçasse ativamente na auto-reflexão dolorosa e tenta lidar com os pecados. Com impressionante abertura, os polacos estão investigando, hoje, a conexão não resolvida entre a identidade polaca e o antissemitismo", acrescenta Orkibi.
"É verdade" - acrescenta - que, na Polônia, ainda existe um vulgar antissemitismo "e é perturbador pensar que algumas elites políticas na Polônia podem ser influenciadas pelo ódio primitivo em relação aos judeus, ou que os esforços legislativos atuais são para servir aos propósitos nacionalistas, inclusive antissemitas".
"Não vamos deixar a controvérsia sobre esta lei obscurecer o fato de que o antissemitismo na Polônia, embora repugnante, é caracterizado por grupos com alto nível de ignorância e populismo, enquanto a maioria dos jovens educados e culturais se distanciam ativamente".

Reações no Knesset para a decisão de Duda sobre a Lei proposta pelo Instituto da Memória Nacional. A decisão do presidente Duda provocou agitação no Knesset.

A chefe de Ha-Bait Ha-Jehudi (Casa Judaica) Szuli Moalem-Rafaeli, anteriormente um guardião do grupo juvenil que visitava campos da morte na Polônia, considera que os diplomatas polacos são persona non grata em Israel. "O Presidente da República da Polônia decidiu manter a atitude infeliz de distorcer os fatos e negar o Holocausto", disse ela. – “Israel não pode ficar em silêncio sobre isso. Devemos imediatamente trazer o embaixador de Israel para a Polônia e expulsar todo o serviço diplomático polaco do país".

O ministro da educação de Israel, Neftali Benett, também pertence à Casa Judaica. Sua visita à Polônia foi cancelada esta semana.

O membro do partido Kulan (Nós todos) Merav Ben-Ari chamou a decisão de Duda de "evidência de vergonha". "É absurdo" - afirma ele - que tal "lei vergonhosa" foi autorizada e, no entanto, "todos sabem que os polacos participaram dos horrores ocorridos durante o Holocausto".
O deputado pensa que "é um insulto (...) acima de tudo para sobreviventes no Holocausto. A lei prepara o caminho para os negadores. O governo polaco é obrigado a se retirar rapidamente e pedir desculpas” - acrescenta.

Por sua vez, o deputado Icik Szmuli, do Ha-Mahane Ha-Cijoni (Campo Sionista), autor da lei israelense que prevê penalidades para minimizar o papel dos colaboradores nazistas, acredita que este é "um dia vergonhoso na história polaca". A Polônia é o primeiro país a aprovar uma lei que nega o Holocausto, enquanto "nenhuma lei vergonhosa apaga a história" - conclui Szlema.

A decisão de Duda é "um dia triste para a Polônia".

O Instituto Yad Vashem reconheceu a decisão do presidente polaco como "infeliz". O Comitê judeu americano disse que era "um dia triste para a Polônia". Agnieszka Markiewicz, diretora do escritório de Varsóvia desta organização, cita o jornal "Jerusalem Post".

Na verdade, a Polônia foi o primeiro país atacado pela Alemanha nazista, e os polacos enfrentaram os invasores e construíram um movimento de resistência, lembra. Entre os mais honrados por Yad Vashem está uma maioria de polacos. No entanto - ela ressalta - "houve atos de antissemitismo, incluindo assassinatos realizados pelos polacos, embora tanto polacos quanto judeus fossem vítimas do Terceiro Reich". Você não pode negar ou proibir a discussão sobre este assunto. Os EUA estão desapontados com a assinatura da Lei do Instituto de Memória Nacional.  A questão da alteração ao texto sancionado causou críticas de Washington.

O secretário de Estado dos EUA, Rex Tillerson, expressou desapontamento e avaliou suas disposições como prejudiciais para a liberdade de expressão e pesquisa. Já na semana passada, os EUA advertiram a Polônia que continuar trabalhando na nova lei poderia prejudicar os interesses estratégicos polacos.

Uma porta-voz do Departamento de Estado estadunidense, Heather Nauert, informou que "negociações diplomáticas privadas" estavam sendo conduzidas. De acordo com o jornal Washington Post, a decisão de Andrzej Duda "provavelmente aumentará as tensões com os Estados Unidos e Israel".

A lei provavelmente entrará em vigor antes que o Tribunal Constitucional emita diretrizes - diz o publicitário Rick Noack. De qualquer forma, "a independência do próprio Tribunal foi questionada desde que o PiS realizou reformas conhecidas como o assassinato do poder judicial". A disputa sobre a Lei não só trouxe críticas internacionais à Polônia, mas também prejudicou as relações com aliados próximos - resume Noack – e causou um debate sobre as questões de cumplicidade no Holocausto que era desconfortável para os nacionalistas polacos.

A decisão, segundo a BBC de Londres ,de enviar a Lei ao Tribunal determina "um gesto em relação a Israel", enquanto a agência Associated Press  qualifica de "movimento atípico", que teoricamente abre o caminho para mudar o conteúdo da lei.

No entanto, "não está claro se o Tribunal Constitucional exigirá quaisquer mudanças porque está sob o controle do partido conservador da Lei e da Justiça na Polônia". A alteração no texto da proposição do IMN - Instituto de Memória Nacional também foi motivo de reações na França. Yean-Yves Le Drian, Ministro das Relações Exterores, chamou-a de "inapropriada" e "digna de condenação".

Ele enfatizou que a história não deveria ser redigida novamente. O que é assumido pela alteração à Lei do IMN introduz pena de prisão de até três anos ou multa por "público e contra fatos" atribuindo responsabilidade à nação ou estado polaco ou co-responsabilidade pelos crimes do Terceiro Reich, outros crimes contra a humanidade, paz e crimes de guerra.

Também deve ser punido por "trivializar grosseiramente a responsabilidade dos perpetradores reais desses crimes". O Sejm (Congresso Nacional da Polônia) aprovou a lei em 26 de janeiro, um dia antes do 73º aniversário e a celebração da libertação do campo de Auschwitz.



Fonte: Revista Polityka
Acesso em 08 fevereiro 2018 - https://www.polityka.pl/tygodnikpolityka/swiat/1737266,1,zagraniczne-reakcje-po-decyzji-andrzeja-dudy-ws-ustawy-o-ipn-smutny-dzien.read

Tradução: Ulisses Iarochinski

domingo, 4 de fevereiro de 2018

Entrevista com o autor de "Cidades da Morte"

Após a aprovação do projeto de Lei, encaminhado ao Congresso Nacional, pelo IPM-Instituto da Memória Nacional (de orientação conservadora de extrema-direita), pelo Senado da República, o debate na própria Polônia acirrou os ânimos.

Jarosław Karpiński, do site "natemat" entrevistou o autor do livro "Miasta śmierci. Sąsiedzkie pogromy Żydów" (Cidades da Morte, vizinhas de pogroms judaicos), Dr. Mirosław Tryczyk, que reconhece a participação de até 500 mil polacos envolvidos na colaboração com os alemães nazistas e  em assassinatos de polacos judeus seus vizinhos.


Mirosław Tryczyk, polaco nascido em 1977, doutor em filosofia e ética, é autor de publicações históricas. Embora não seja historiador é um profundo pesquisador de questões históricas e políticas da Polônia e Europa Central. Autor também do livro "Między imperium a świętą Rosją" (Entre o Império e a Santa Rússia).


"Lembre-se que tivemos um grupo de pessoas, nesta nação polaca terrivelmente devastada, antissemitas que colaboraram com o ocupante por vários motivos e colaboraram no extermínio dos judeus. Não podemos negar isso! Não é algo pequeno! Os pesquisadores de extermínio estimam de 50.000 a meio milhão de pessoas".

Karpiński - Todo mundo já ouviu falar sobre Jedwabne, mas há mais lugares. O senhor escreve sobre isso no livro "Cidades da morte, vizinhas de pogroms judaicos".

TRYCZYK - Somente no contexto do ano de 1941, pode-se falar de dezenas de cidades onde ocorreram incidentes antissemitas, pogroms em larga escala e dezenas de assassinatos, em que morreram mais de 100 pessoas. O conhecimento sobre a onda de pogroms que varreu as antigas fronteiras do Leste após o exército alemão entrando nelas era conhecido pelos historiadores polacos. Os documentos foram arquivados a partir do ano de 45 e eram relacionados aos processos que se seguiram diante dos tribunais polacos contra esses pogroms e testemunhos encontrados nos arquivos de, entre outros, Instituto Histórico Judaico em Varsóvia e outros espalhados pelo mundo. Escrevi no livro sobre 15 lugares, entre eles, Radziłów, Szczuczyn, Jedwabne, Wąsosz, Jasionówce, Suchowola ...

Karpiński - Também sobre o assassinato de judeus em Bzury

TRYCZYK - Este crime foi uma consequência do pogrom em Szczuczyn. Quando os alemães ocuparam a região da Podlaska durante a ofensiva da URSS em 1941, eles não estabeleceram sua administração imediatamente, assim um vácuo ocupacional foi criado, os soviéticos já haviam fugido e a administração alemã ainda não estava lá. Os guardas dos cidadãos locais, os comitês de autodefesa foram estabelecidos naquele momento e passaram a assassinar seus vizinhos judeus, às vezes de inspiração alemã, às vezes completamente por autodefesa. Smarzowski em uma cena famosa do filme "Volínia" mostrou uma situação semelhante, apesar da presença de tropas alemãs, os ucranianos assassinaram polacos. No gueto de Szczuczyn, cerca de 2.000 judeus viviam lá antes que os alemães chegassem em 20 de julho de 1941, e encontraram apenas algo próximo a 370 polacos de origem judaica. A primeira questão que surgiu foi: O que aconteceu com os outros?

Mais tarde, prisioneiros do gueto foram levados para trabalhar em fazendas próximas. Jovens jovens que, após a guerra, admitiram pertencer à Democracia Nacional, chegaram a uma das fazendas de Bzury, e levaram 20 moças para a floresta, onde foram estupradas e assassinadas. Os promotores comunistas na década de 1970, no entanto, determinaram que a execução desse crime tinha sido obra alemã. Unicamente em 2001 foi comprovado que o crime foi levado a cabo por polacos católico e o Ministério Público com Instituto da Memória Nacional, referiu-se a eles como crimes de "razões raciais". Nos lugares que descrevi, nenhuma seleção foi feita, todos os polacos de origem judaica foram capturados, incluindo mulheres, idosos e crianças, foram mortos sem exceção.

Capa do Livro: Cidades da Morte, vizinhas de progroms judaicos 
Karpiński - Um monumento foi erguido no lugar dos judeus assassinados. Mas por que aconteceram nos pogroms, porque provavelmente não aconteceram só por inspiração alemã, não? e quem estava por trás deles?

TRYCZYK - As causas devem ser buscadas no trabalho ideológico realizado pelos setores nacionalistas amplamente compreendido, que semeou propaganda antissemita, principalmente na década de 1930, pouco antes do início da Segunda Guerra Mundial. Também participou desta campanha, o clero católico, especialmente nas regiões mais orientais do país. No geral, houve um clima bem grande contra. Já nos relatos do governador de Białystok, em Varsóvia, em 1936, há mais de 800 incidentes antissemitas, espancamentos e homicídios na destruição de propriedade. Em 1937, o mesmo.

Depois que os comunistas entraram através da fronteira em 17 de setembro de 1939, começou um julgamento de classe com os kułaków (culaques – termo pejorativo russo para camponeses relativamente ricos com grandes fazendas e que faziam uso de trabalho assalariado), com apoiantes dos democratas nacionais, dos clérigos, dos proprietários de terra (senhores feudais), mas também com pessoas do judaísmo. Lembre-se de que também havia uma ala judaica de direita. Os bolcheviques deportaram não só empresários ou comerciantes judeus, mas também membros de partidos religiosos e da direita judaica. Mas disso não se lembram nos territórios orientais da Polônia. Recorde-se que alguns polacos de origem judaica cooperaram com os bolcheviques quando deportavam patriotas polacos para o leste, o que, é claro, é verdade, mas apenas em pequena medida. De qualquer forma, esta campanha antissemita fortemente presente na Polônia desde a década de 1930 foi endereçada para as pessoas comuns mais afetadas pelo terror bolchevique e por isso mesmo, causou eventos muito trágicos.

Karpiński - O deputado Jakubiak, do movimento de Kukiz, disse: "Mostre-me pelo menos um paco salvo por um judeu. O holocausto polaco não era muito menor do que o judeu." Como o senhor se refere a essas palavras dele?

TRYCZYK - Essas palavras são extremamente tolas. Em primeiro lugar, é difícil mostrar judeus salvando polacos de uma situação em que estes mesmos judeus se encontravam escondidos e sendo perseguidos. Dizer algo neste sentido é algum tipo de aberração intelectual. É um pouco dizer como, mostre-me um ucraniano que foi salvo pelos polacos durante o massacre da Volínia. Talvez o deputado não saiba, mas os judeus foram assassinados e exterminados de uma maneira que em nenhuma outra nação, na história do mundo e da humanidade jamais ocorreu.

Família judia de Szczucin - Józef Guststein / Foto: Tryczyk M.

Na região da Podlaska, muitas vezes ouço conversas de pessoas mais velhas lembrando a guerra de que "a vida de um judeu era como uma vida de uma mosca, todos podiam vencê-la". Analogia contemporânea. Matam, hoje, pessoas em Varsóvia, na rua, querem matar, a multidão está assistindo, dezenas de pessoas dessa multidão que se juntam para bater nas outras, a maioria é passiva, outras tentam ajudar a bater e intervêm, e o deputado Jakubiak provavelmente perguntaria se a vítima da surra próxima da morte, nesta situação, tem ajuda alguém?

Além disso, não sabemos quantas vezes no cotidiano um judeu ajudou um polaco católico durante a ocupação. Há muitos exemplos de amor que nasceram entre os polacos de origem judaica que se esconderam e os polacos de outras origens, e certamente houve muitas situações durante a ocupação alemã, em que salvaram a vida uns dos outros, mas não é a única coisa a dizer, agora. Estas comparações não cabem em nenhum lugar. E é só isso. No entanto, o deputado Jakubiak tem razão nisto, de que a nação polaca também sofreu muito e sofreu enormes perdas material e de população durante a guerra. É difícil pesar o sofrimento humano, mas ninguém nega o sofrimento dos polacos. O extermínio da nação polaca também foi parte do plano para destruir as nações étnicas conquistadas.

Karpiński - Mas também havia aqueles polacos ruins, quais são as estimativas quanto a eles?

TRYCZYK - Sim, lembre-se de que tínhamos um grupo nesta nação polaca terrivelmente devastada de pessoas antissemitas que colaboraram com o invasor por diversas razões e que também colaboraram no extermínio dos polacos judeus. Não podemos negar isso. Não eram poucas. Os pesquisadores de extermínio estimam de 50.000 a meio milhão de pessoas (numa população de 35 milhões de habitantes). Em várias etapas do extermínio, porque também houve uma terceira etapa do Holocausto nos anos de 1942 e 43, que consistiu em chantagem, publicações judaicas, assassinatos e etc.. Lembramos também os infames exemplos de guerrilheiros, sob diferentes bandeiras que discutiram com judeus assim que se conheceram, escondidos nas florestas. Claro está, que você nunca pode falar sobre responsabilidade coletiva! Você não pode falar sobre nação polaca, mas apenas sobre pessoas específicas com seus nomes idetificados. O Estado polaco, no entanto, é responsável pela propaganda antissemita da década de 1930.

Karpiński - A nova lei proposta IPN-Instituto da Memória fecha a boca de pesquisadores como você?

TRYCZYK - Estou convencido de que esta lei será capaz de amordaçar a boca e os cientistas terão que pensar duas vezes antes de escreverem algo. Vou dar um exemplo. Um pogrom ocorreu em Szczuczyn. As vítimas do pogrom foram enterradas em covas da morte, onde hoje existe um prado e as vacas pastam nele. Se a comunidade em Szczuczyn quiser cercar este lugar ou colocar um monumento às vítimas ali, então, sob a nova lei, o prefeito e os moradores estariam sendo ameaçados com três anos de prisão. Uma vez que alguém do Instituto da Memória Nacional possa estar disposto a montar um monumento às vítimas do pogrom por ter destruído descaradamente os crimes nazistas. Os moradores de Szczuczyn, cujos antepassados ​​cometeram crimes, não são cientistas e artistas, e assim eles cumprem todos os requisitos para o entendimento de tenha havido crime. Tal absurdo está previsto por esta lei. A lei não atenta contra cidadãos de países estrangeiros, mas sim e, principalmente, contra polacos. O Estado polaco, proíbe-os de falar sobre o que aconteceu com suas famílias, em suas vilas e cidades, para combater o trauma que vem desses terríveis acontecimentos e que continua por gerações.

Karpiński - Por que o Senhor está tratando desse assunto?

TRYCZYK - Eu não sou judeu. Minha família vem da Podlaska. Meu avô era fortemente orientado para o nacionalismo, era um antissemita e um membro local do Partido Nacional. Conheço suas cartas, eu sei quais livros ele leu. Ele costumava ler, por exemplo, "Cavaleiro da Imaculada" ("Rycerzu Niepokalanej”). Na minha família há cartas obescuras relacionadas ao seu antissemitismo. Este foi o único motivo que me levou a tratar dos temas desse assunto.

Karpiński - Após a publicação do teu livro, o senhor foi hostilizado?

Eu conheci muito ódio na internet. Sempre acontecem situações difíceis em reuniões com leitores, às vezes, as pessoas que me atacam agressivamente aparecem. Eu fui chamado de szabes-goj (não-judeu que trabalha no sábado), um traidor para a pátria, e caluniador de seu próprio ninho. Mas desde que o livro foi lançado se realizou muitas reuniões com leitores em cidades onde existiram pogroms, também houve muitos efeitos sociais positivos. As pessoas falam sobre o que aconteceu, elas estão menos envergonhadas. Graças a isso, conseguimos encontrar, por exemplo, o túmulo de meninas judias em Bzury.

Entrevistador: Jarosław Karpiński
Tradutor: Ulisses Iarochinski

Fonte: Acesso em 4 fevereiro 2018: http://natemat.pl/228947,ilu-bylo-polskich-szmalcownikow-miroslaw-tryczyk-zbadal-pogromy-zydow

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Senado da Polônia aprova Lei para punir quem imputar aos polacos os horrores nazistas

Portão de entrada de Auschwitz - Foto: Ulisses Iarochinski
Senado da Polônia aprova lei que pune quem responsabilizar a nação polaca por crimes cometidos pelos alemães. 

Legislação prevê até três anos de prisão para quem acusar polacos de cumplicidade em crimes nazistas e usar expressão "campos de concentração e extermínio polacos".

Segundo a rádio Deutsche Welle, da Alemanha, como setores dos governos de Israel e Estados Unidos estão criticando o Congresso Polaco, a imprensa internacional está chamando a lei de Polêmica.

Manchete da Deustche Welle: SENADO DA POLÔNIA APROVA LEI POLÊMICA SOBRE O HOLOCAUSTO.

- A lei não é Sobre o Holocausto, editor!

Ela foi aprovada na madrugada desta quinta-feira (01/fevereiro) e criminaliza qualquer indivíduo que atribua ao país ou a seu povo culpa por crimes de guerra cometidos pelos alemães nazistas no território polaco.

Além de prisão deverá ser imposta multa para quem utilizar a expressão "campos de concentração e extermínio polacos", em referência aos campos de concentração erguidos no país pelo governo alemão durante a Segunda Guerra Mundial. A lei exclui punição nos casos de trabalhos de pesquisa acadêmica ou artísticos. Para entrar em vigor, o texto ainda precisa ainda ser sancionado pelo presidente Andrzej Duda.


Manchete do site brasileiro Nexo: COMO UMA LEI POLACA REABRIU O DEBATE SOBRE O HOLOCAUSTO

A iniciativa, que segundo o governo polaco tem o objetivo "defender a imagem do país", foi criticada por políticos de Israel. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, acusou Varsóvia de "querer reescrever a história".

O ministro israelense da Inteligência e Transportes, Israel Katz, acusou Varsóvia de tentar "apagar sua própria responsabilidade" no Holocausto.

"Nenhuma lei pode mudar a história. Nos lembraremos e jamais esqueceremos", disse através do Twitter o parlamentar israelense da oposição Yair Lapid.

Antes da aprovação, alguns senadores dos Estados Unidos também protestaram contra a nova lei, expressando "profunda preocupação" com os possíveis efeitos. "Expressões como 'campos de concentração e extermínio polacos' são imprecisas, suscetíveis de induzir a erros e causar feridas, mas receamos que se promulgada, a legislação afete a liberdade de expressão e o debate histórico", disse Heather Nauert, porta-voz do Departamento de Estado norte-americano.

Manchete do jornal Extra, Organizações Globo: PARLAMENTARES POLACOS APOIAM PROJETO DE LEI SOBRE HOLOCAUSTO; EUA EXPRESSAM PREOCUPAÇÃO

A lei surge num contexto histórico que se iniciou quando da queda da União Soviética e que vem sendo percebido há anos pelas autoridades polacas. Toda vez que um jornalista, um escritor, uma autoridade estrangeira chama de "os campos de concentração da Polônia", a diplomacia polaca imediatamente repreende o mal intencionado, ou ignorante.

Quem não se lembra de um discurso do então presidente Barak Obama?
O presidente dos Estados Unidos e aliado da Polônia nominou os campos alemães da segunda guerra como sendo campos de extermínios polacos e teve que se retratar, após o embaixador da Polônia, em Washington cobrar veementemente o que o governo da Casa Branca se prontificou a se desculpar, através de seu porta-voz, que textualmente qualificou o incidente, ou gafe, como sendo apenas um "Deslize" do mandatário.

Os críticos da nova lei argumentam que ela pode permitir ao governo da Polônia negar casos em que a cumplicidade polaca em crimes de guerra foi provada, assim como pode minar a liberdade de expressão e o discurso acadêmico.

- Liberdade de expressão chamar os campos nazistas de polacos???

Já o partido governista da Polônia PiS - Direito e Justiça, de extrema-direita, assim como o é, o partido do chefe de governo israelense, rejeita as críticas.
Os conservadores do partido polaco afirmam que está em jogo a defesa da reputação do país e que é necessário corrigir a "linguagem incorreta" muitas vezes utilizada na forma como a história é retratada.

Durante a Segunda Guerra Mundial, mais de um milhão e meio de pessoas morreram no campo de concentração e extermínio de Auschwitz-Birkenau, localizado na Polônia ocupada, assassinados pelo exército de Adolf Hitler. Entre aquelas pessoas estavam não só "polacos" de origem judaica, mas também padres católicos, ciganos e soldados soviéticos.

Segundo o historiador David Silberklan, do Memorial do Holocausto Yad Vashem, não havia guardas polacos nos campos situados no país. Segundo ele, na Polônia, permeada por algum sentimento antissemita, alguns de seus cidadãos teriam colaborado com os nazistas e assassinado judeus. Alegam neste sentido, como justificativa da participação polaca nos crimes, o massacre de 300 judeus pela população católica apostólica romana da cidade de Jedwabne, no leste do país.

Manchete do jornal Dia a Dia: POLÔNIA E O HOLOCAUSTO, UM DEBATE ATUAL

Até um  pastor da Igreja Batista Nações Unidas, de São Paulo, sentiu-se no direito de criticar a Polônia. Luiz Sayão é este o nome dele, afirmou que "é lamentável que o governo nacionalista polaco tenha decidido criminalizar qualquer expressão que afirme alguma responsabilidade polaca no holocausto, perpetrado pelos nazistas, na ocasião da Segunda Guerra Mundial".

E deita falação, cometendo erros de informação, dizendo que "Não se pode negar a morte de quase dois milhões de polacos na ocasião".

- Dois milhões, pastor? Qual é a tua fonte?

E Sayão, segue escrevendo sobre o que não conhece: "mas isso não exime de culpa os que colaboraram com os nazistas, nem apaga a realidade dos conhecidos pogroms".

Sayão, cita estimativas da Segunda Guerra Mundial dizendo que "são de 70 milhões de mortos (aproximadamente, 45 milhões de civis), sendo cerca de 24 milhões de russos, 20 milhões de chineses, 7,5 milhões de alemães".

Pastor! Onde estão as fontes destes impropério estatísticos? 

Foram 25 milhões de soviéticos, e não só russos.
Não foram 20 milhões de chineses, mas 15 milhões. E isto numa guerra particular com o Japão (aliado do eixo Itália-Alemanha) iniciada ainda na primeira guerra mundial. Os chineses não combateram em território europeu. E ele não apresentou as cifras corretas sobre o país que foi o mais destruído e teve 6 milhões de cidadãos polacos (não só polacos de origem judaica) trucidados pelos nazistas e pelos soviéticos (guerrilheiros ucranianos, em sua maioria). Aumentar ou diminuir cifras é manipulação ou desconhecimento. Nos dois casos é melhor não emitir opinião!

Mais uma do Sayão: "A Polônia, por exemplo, contava com a maior comunidade judaica antes da guerra, com 3,2 milhões de cidadãos. A ocupação nazista do território polaco em 1939 resultou, entre outras atrocidades, na construção de campos de extermínios como Auschwitz e Treblinka".

- O pastor e suas fontes desapareceram com mais 100 mil polacos de origem judaica nesta estatística dele.

E apenas para repetir mais um parágrafo do "entendido" evangélico de São Paulo: "A solução final organizada e executada exterminou cerca de 6 milhões de judeus , mais de um terço da comunidade judaica de todo o mundo. A perseguição e os maus tratos atingiram diversas comunidades como ciganos, eslavos, homossexuais, judeus, evangélicos e comunistas. Um dos principais mártires evangélicos do período nazista foi Dietrich Bonhoeffer (fala sério!). Entre os teólogos renomados que perderam sua posição por causa da intolerância do Führer, destacam-se Karl Barth e Paul Tillich". 

- Não, pastor! Não foram 6 milhões de judeus.

- Não repita Simon Weisenthal.

- O correto?

Foram 2.700.000 polacos de origens judaica e não 6.000.000 a morrer na Polônia.

- Pois, "aqueles judeus" também eram cidadãos polacos, e o eram não apenas por cidadania, mas porque há mil anos seus ancestrais haviam chegado na Polônia Católica, a Terra Prometida da Torá, ou como está escrito neste livro: a terra de POLIN. E continuaram chegando nos séculos seguintes, após serem expulsos da península ibérica, da península itálica, das terras saxônicas, francas e holandesas.

- A conta, pastor, só fecha com outros 3.300.000 polacos de origem proto-eslava, em sua maioria católicos romanos,  ortodoxos, protestantes, ciganos e de outras religiões.

A Rádio Moscou, agora com a denominação de Sputnik, na Internet, com toda sua "parcialidade" quando se trata das coisas da Polônia, também chama a lei de "polêmica". Informa que "apesar de uma longa discussão, a lei foi aprovada pelo Senado sem qualquer correção, como chegou à câmara superior do Congresso. A mesma punição é extendida contra propaganda da ideologia do líder ruteno Bandera e a negação dos crimes ucranianos (rutenos) na região da Volínia" polaca.

Manchete da Revista IstoÉ: POLÔNIA APROVA LEI POLÊMICA SOBRE HOLOCAUSTO; ISRAEL PROTESTA

Na imprensa brasileira, o site da Revista Isto/É reproduziu comunicado da agência Ansa, afirmando também em manchete que a Lei é "polêmica""A votação, que se estendeu pela madrugada por conta dos protestos da oposição, contou com 57 votos a favor, 23 contra e duas abstenções. O texto já havia sido aprovado na Câmara dos Deputados, durante a última semana, e agora segue para sanção presidencial".

Em outro parágrafo o jornalista da agência Ansa escreve: "O documento afirma que todos os que falarem publicamente algo, em solo polaco ou mesmo no exterior, que atribua à nação polaca ou ao Estado polaco a responsabilidade, ou a corresponsabilidade dos crimes cometidos pelo Terceiro Reich alemão ou ainda os crimes contra a humanidade, contra a paz ou outros crimes cometidos durante a guerra”.

A jornalista Maria João Guimarães, do jornal Público, de Lisboa, Portugal, que se apresenta como aquela que "Escrevi sobre o muro em Israel e o muro de Berlim. Sobre racismo em Israel, na Alemanha, na Grécia", também não se furtou a escrever sobre a lei aprovada no Senado polaco.

Ela abre sua matéria com: "O caso da Polónia é talvez o maior de todos os paradoxos do Holocausto”, escreveu o historiador Gunnar S. Paulsson. “Por um lado, dos mais de três milhões de judeus polacos que caíram nas mãos dos nazis, só sobreviveram cerca de 3%, o que põe a Polónia no fim da lista dos países europeus”, nota. “Por outro lado, na lista de países nos quais pessoas arriscaram a vida para ajudar judeus, a Polónia está no topo de todos".

Antes disso, no "bigode" da manchete Maria João, já acusa os polacos: "Se na Polónia houve milhares de vítimas dos nazis, e se houve movimentos de resistência contra o regime alemão, também houve milhares de colaboracionistas e informadores entre os polacos, e alguns levaram a cabo massacres de judeus".

Mas ela inverte as cifras dos mortos: "Na sequência da invasão e ocupação da Polónia pela Alemanha nazi – considerada uma das mais brutais da II Guerra - morreram 2,77 milhões de polacos e ainda 2,9 milhões de judeus polacos".

- Não, Maria João! foram 2.700.000 polacos de origem judaica e 3.300.000 de polacos de outras origens (em sua maioria proto-eslavos) e religiões.

A jornalista portuguesa reconhece que "Os polacos são a nacionalidade com mais cidadãos distinguidos pelo museu Yad Vashem por salvar vidas de judeus durante a guerra – 6706 cidadãos (num total de 26.513). Muitos polacos foram mortos por terem escondido judeus nas suas casas (a pena era a morte de todos os habitantes da casa). A Polónia foi também o país com o maior movimento de resistência aos ocupantes nazis. O Armia Krajowa (Exército Nacional) era a mais importante força de resistência e era leal ao governo polaco exilado em Londres, chegando a ter cerca de 300 mil combatentes depois de ter absorvido a maior parte de outros movimentos de resistência".

- Sim, Maria João. Seus dados, agora estão corretos.

Maria João, tentando aparentar imparcialidade, repete a ladainha antipolonista citando o seguidor do criador da palavra Holocausto: "O número de colaboracionistas polacos é de “muitos milhares”, diz o “caçador de nazis” Efraim Zuroff do Centro Simon Wiesenthal".

- Maria! Wiesenthal cunhou não só a palavra, como a cifra de seis milhões, subvertendo as perdas humanas polacas, como sendo exclusividade judaica.

Para encerrar este texto, lembro que em 2005, o então ministro da cultura da Polônia, Waldemar Dąbrowski, após reportagens do jornal polaco Gazeta Wyborcza, que identificou estudantes israelenses que participaram da Marcha pela Vida, em abril daquele ano, respondendo que se "Auschwitz está na Polônia, então os polacos é que tinham assassinado seu povo".

O ministro convidou então, as universidades e escolas de segundo grau de Israel a se unirem às universidade e escolas polacas a concertarem um mesmo discurso e que parassem de espalhar boatos e mentir para seus alunos sobre os campos alemães durante a ocupação da Polônia.
O jornal polaco identificou que os professores israelenses estavam ensinado uma outra versão da guerra para seus alunos. Orientavam inclusive, que durante o período que permanecessem na Polônia, não mantívessem contato com os polacos. Tudo em prol de um sentimento antipolonidade.

A partir de 2006, por iniciativa de Dąbrowski os alunos polacos, por ordem dos ministérios da educação e da cultura passaram a fazer parte da Marcha Israelense.
Os estudantes polacos começaram a fazer juntos com os visitantes israelenses, o mesmo percurso de 3 km entre Auschwitz, na cidade Oświęcin e Birkenau, na cidade de Brzezinka para lembrar os horrores que sentiram não só os polacos de origem judaica, mas todos os polacos das demais religiões e ateísmo.

Outras manchetes:
Manchete do jornal El País, Madrid, Espanha: POLÔNIA APROVA POLÊMICA LEI QUE IMPEDE VINCULAR O PAÍS AOS CRIMES DO HOLOCAUSTO

Manchete do jornal Público, Lisboa, Portugal: POLÓNIA, O MAIOR DE TODOS OS PARADOXOS DO HOLOCAUSTO

Manchete JornalI, Portugal: POLÓNIA APROVA LEI QUE TORNA ILEGAL ACUSAR O PAÍS DE CUMPLICIDADE COM OS NAZIS

Manchete da TV europeia Euronews, França: PROJETO LEI POLACO SOBRE CRIMES DA ALEMANHA NAZI SUBMETIDO AO PRESIDENTE

Manchete do jornal Tempo: PAÍSES REPUDIAM LEI QUE ISENTA POLÔNIA DA MORTE DE JUDEUS

Manchete do Destak Jornal: POLÔNIA APROVA PROJETO DE LEI SOBRE HOLOCAUSTO

Mais uma manchete da IstoÉ: LEI POLACA SOBRE HOLOCAUSTO JUDEU IRRITA ISRAEL, EUA E UCRÂNIA

- Nada mais parcial, unilateral e antijornalístico do que estas manchetes. Todas, sem exceção, procuram criminalizar a Polônia por se defender de acusações e "deslizes". E o uso da palavra Holocausto é equivocado, pois não é dele que a lei se refere.

Com: DW/IstoÉ/ RC/lusa/dpa/ap/Ansa

Ulisses Iarochinski diante do Monumento ao Holocausto no campo de concentração e extermínio alemão de Majdanek, em Lublin - Polônia

Manchetes do jornal Gazeta Wyborcza, de Varsóvia, de oposição ao atual governo da Polônia, um da após as repercussões da lei aprovada no Senado:

- PiS LÊ PESQUISAS E AVANÇA COM O ATO DO INSTITUTO DA MEMÓRIA NACIONAL. O PLANO? SIMPLES: O PRESIDENTE DUDA RAPIDAMENTE ASSINA E DEPOIS CONVERSA COM ISRAEL

- KARCZEWSKI EM UMA REUNIÃO COM DIPLOMATAS: A CO-RESPONSABILIDADE DA POLÔNIA PELO HOLOCASTO É ANTIPOLONISMO

- A EMBAIXADA ISRAELENSE ESTÁ PROTESTANDO CONTRA OS MATERIAIS INFORMATITVOS DA TVP. NÓS VIMOS LÁ AINDA MUITO MAIS

- O CONSELHO INTERNACIONAL DE OŚWIĘCIN ESTÁ PROTESTANDO SOBRE A LEI DO  INSTITUTO DA MEMÓRIA NACIONAL

Título do artigo do colunista Paweł Wroński:
- PRIMEIRO MINISTRO MORAWIECKI  ENSINA HISTÓRIA, MAS NÃO COMPREENDE O FOSSO ENTRE AS SENSIBILIDADES POLACA E JUDAICA

sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

Nacionalismo e Patriotismo

Foto: Andreas Dueren - CNA
O Arcebispo de Poznań e Presidente da Conferência Episcopal Polaca (KEP), Stanisław Gadecki, dedicou uma carta para explicar as diferenças entre o nacionalismo e o patriotismo, por ocasião da XXI Jornada do Judaísmo na Igreja Católica na Polônia. O religioso expôs os perigos do primeiro e recomendou as virtudes do segundo, que descreveu como "uma atitude que vale a pena cultivar".

"A Igreja Católica percebe criticamente o nacionalismo, porque colocar a nação acima da hierarquia de valores pode levar a uma espécie de idolatria", advertiu Gadecki, que recordou que o Papa Pio XI em 1937 advertiu contra este erro na Encíclica "Mit Brenneder Sorge".

Em contraste, o arcebispo recomendou a promoção do patriotismo, citando as palavras de São João Paulo II na Encíclica "Redemptoris Missio": "O cristão e as comunidades cristãs vivem profundamente inseridos na vida de seus povos respectivos e são sinal do Evangelho inclusive pela fidelidade à sua pátria, ao seu povo, à cultura nacional, mas sempre com a liberdade que Cristo trouxe".

Os Bispos polacos contam com um documento intitulado "A Forma Cristã do Patriotismo" e afirmaram em 2012 que o patriotismo pode ser um elemento de ordem e paz se ele se constrói sobre a Fé e o mandamento do amor. Os religiosos polacos descreveram o dever patriótico também como um "compromisso de trabalho sobre a reconciliação social através de recordar a verdade sobre a dignidade de cada ser humano", e um apontar e crescer até as possibilidades do país através da cooperação acima das divisões.

"Desejo a todos meus compatriotas em casa e no exterior que o Centésimo Aniversário da Independência da Polônia nos fortaleça no amor à pátria no espírito do autêntico patriotismo", concluiu Dom Gadecki. (EPC)

Fonte:gaudiumpress.org

quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Minhas palavras no facebook

Estas são as palavras que mais escrevo em minhas publicações no Facebook. A maioria, portanto, palavras que traduzem minhas origens e meus labores. Palavras do interior do Paraná e da terra dos meus ancestrais.

segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Meu amigo Frans

Israel Klabin, da família Lafer-Klabin, um dos proprietários das Indústrias Klabin, escreveu no jornal Folha de S.Paulo sobre seu amigo de juventude, o polaco Franciszek Krajcberg, que chegado da Polônia, foi trabalhar na Fazenda Monte Alegre (atual município de Telêmaco Borba), no sertão do Paraná, como desenhista.

Foto:Danilo Verpa/Folhapress
Por Israel Klabin

Logo depois da cruel guerra que terminou em 1945, meu pai, que era chamado para resolver os múltiplos problemas dos remanescentes judeus das cruéis perseguições —nem sempre feitas só pelos nazistas alemães— recebeu uma ligação de Lasar Segall (1891-1957), que tinha relações familiares conosco.

Ele pedia que meu pai intercedesse e organizasse a vinda para o Brasil de um jovem artista polonês. Esse pedido incisivo era feito pelo grande artista Marc Chagall (1887-1985) a meu pai, através de Segall.

Eis a história: um jovem judeu polonês, jogado num campo de concentração na Polônia, onde tinha sido perseguido e insultado pelos próprios poloneses não judeus.

Libertado por tropas russas, teve de pegar em armas ainda imberbe, lutando ao lado dos russos ao final da guerra. Finalmente, com o avanço das tropas aliadas, voltou a pegar em armas, desta vez ao lado de tropas americanas e inglesas.



Esse jovem, com pouco mais de 20 anos, conhecera Marc Chagall, que por ele se encantou. Daí o pedido de fugir da Europa, de suas misérias e perseguições e vir para o Brasil. Meu pai conseguiu organizar a sua vinda e o colocou como desenhista no setor de engenharia da empresa florestal de papel e celulose da família, onde ele encontrou uma profissão afim e próxima das suas habilidades artísticas.

Eu, jovem estudante de engenharia, fazia meus estágios durante as férias também nesse mesmo escritório, no interior do Paraná. Nasceu, como diria Goethe, uma grande "afinidade eletiva" entre mim, praticamente imberbe, e aquele mais velho, porém ainda jovem contratado e que ajudava a erigir uma grande obra no meio da floresta.

Durante o meu percurso acadêmico, as minhas férias encontravam em Frans Krajcberg e no jovem engenheiro químico Claudio Lobl uma trinca amante das artes, da natureza e do pensamento criativo, que redundou numa amizade profunda que durou toda a vida.



Ensaios e pinturas eram criados fora das horas de trabalho. Passeios por trilhas e conversas infindáveis consolidavam uma relação que frutificou através dos anos e se manteve até o desaparecimento primeiro de Claudio Lobl, que foi o grande CEO (principal executivo) da empresa Klabin, e agora com a partida do meu querido Frans.

Ainda no nosso passado, há quase 70 anos, em 1951, a primeira Bienal recebeu a obra desse artista polonês paranaense Frans Krajcberg, a quem foi conferido o primeiro prêmio.

A partir daí, todos conhecem os caminhos que o levaram a Paris, para a construção dos marcos indeléveis contra as queimadas da Amazônia, a beleza das construções com raízes, troncos e galhos que formavam entes sobrenaturais e que indicavam a permanência da vida e da natureza e a sua relação profunda conosco, seres humanos —que, ao compreendê-la, conversávamos com ela ao olhar a arte de Frans.



Quanta coisa mais fizemos juntos! Lembro-me das conversas cheias de vida no seu pequeno apartamento na Urca, no Rio.

Lembro-me do seu aniversário em Nova Viçosa (BA), quando ele recebeu de mim o que chamava de o melhor presente que já tinha recebido: 2.000 mudas de árvores, cujas espécies estavam ameaçadas.

Lembro-me das minhas visitas angustiadas ao Hospital Albert Einstein, no qual ele conseguia sobrenadar os percalços da contingência física e continuar a trabalhar.

Frans era a própria vida. Sem preconceitos entre o vegetal e o animal, sem reticências à profundidade e permanência da Criação e com a certeza de que as frases ditas pela madeira, pela árvore, pelo ar e até por nós mesmos contingenciavam o espaço e o tempo.

Momentos profundos de conversas sem palavras, de pensamentos mentirosos, mas que escondiam a comunicação vigorosa sobre aquilo que não era dito: a morte de meu filho e o presente que ele me deu de uma ave de madeira que voava na minha imaginação e que me levava para onde o meu filho estivesse.


A raiva violenta contra os destruidores, os saqueadores da humanidade, os desflorestadores da Amazônia e contra todos aqueles que não compreendiam que a finalidade do homem era participar de um todo e que por esse todo ele era também responsável.

Meu caro Frans, você continua por aqui. Todo dia te vejo, quando entro em minha casa passando pela tua escultura que mandei fundir em ferro para que fosse imobilizada e eternizada. Ou quando chego ao meu trabalho e olho aquela imensa árvore queimada, resquícios de uma floresta que você transformou e nela encontrou a beleza e a permanência. Ou quando entro numa floresta viva e vejo você sorrindo.

Meu grande abraço, querido amigo.

Texto de: ISRAEL KLABIN,
presidente da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável, é membro do Conselho da Klabin S.A.

Fonte: jornal Folha de S.Paulo


FRANS KRAJCBERG

Pintor, escultor, gravador, fotógrafo e artista plástico nascido na Polônia e naturalizado brasileiro.
Nascimento: 12 de abril de 1921, Kozienice, Polônia
Falecimento: 15 de novembro de 2017, Rio de Janeiro, RJ
Livros: Nouveau manifeste du naturalisme intégral, MAIS
Filmes: Socorro Nobre

sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Principal partido polaco trabalha para o Kremlin

O ex-deputado Roman Giertych publicou artigo dias atrás no portal de notícias wp.pl (Grupa Wirtualna Polska - grupo virtual polaco) com o título:

"Tusk está certo. PiS trabalha para o Kremlin"

Mas quem é Roman Jacek Giertych para falar com tanta propriedade de Donald Tusk e criticar o partido de Jarosław Kaczyński, o PiS?

Giertych tem 46 anos e é um político polaco, historiador e advogado. Nos anos 2001-2007 foi deputado, sendo também, no período 2006 a 2007, vice primeiro-ministro e ao mesmo tempo ministro da educação nos governos de Kazimierz Marcinkiewicz e Jarosław Kaczyński.
É ex-presidente da LPR - Liga das Famílias Polacas e Juventude Polaca, um partido de extrema-direita.

Ele é o autor de livros:
  • Kontrrewolucja młodych, Ad Astra, Warszawa 1994, ​ISBN 83-901684-1-3​
  • Pod walcem historii. Polityka zagraniczna Ruchu Narodowego 1938–1945, Londyn 1995
  • Za błękitną kurtyną: polski wywiad na tropie masonów, Fulmen-Poland, Warszawa 1996, ​ISBN 83-86445-08-4​
  • Lot Orła, Fundacja „Nasza Przyszłość”, Szczecinek 2000, ​ISBN 83-88531-04-2​
  • Możemy wygrać Polskę. Wybór felietonów z Radia Maryja 1997–1999, Ostoja, Krzeszowice 2001, ​ISBN 83-88020-52-8

Antes de se eleger deputado nacional dirigiu seu escritório de advocacia em Varsóvia e retornou a ele em 2007. Nas eleições seguintes declarou seu voto no PO - Partido Plataforma Cívica, do presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk.

Em fevereiro de 2013, juntamente com Marcinkiewicz e Michal Kaminski criou o Instituto Pensamento Estatal do qual é presidente. Nas eleições parlamentares de 2015 concorreu sem sucesso como candidato independente ao Senado. Perdeu para Konstanty Radziwill.


Bem, apresentado o autor, vamos ao seu texto:

Alguém finalmente disse isso alto: "PiS trabalha para o Kremlin". Até agora, fingimos que nada de especial aconteceu. Houve uma mudança no governo na Polônia, e que está implementando seu programa de governo. Enquanto isso, a verdade é brutal. Nenhum agente de Putin agiu até agora de outra forma que o PiS está fazendo.

Ex primeiro-ministro da Polônia e atual presidente do Conselho Europeu da UE
Política de defesa
Ridículo o uniforme do soldado polaco homenageado por uns adolescentes, nenhuma compra efetiva de qualquer equipamento militar nos últimos dois anos, desperdício de dinheiro do exército com propósito não militar, grupo tático militar polaco GROM, declarações ridículas não comprovadas sobre o Ministério da Defesa Nacional, curioso (justo nesta semana quando surgiram boatos de uma guerra quente contra a Rússia) como o presidente da República Andrzej Duda disse sobre os "métodos UB" dos generais desobedientes afirmando que seus desempenhos prejudicam os interesses fundamentais da Polônia e objetivamente ele está agindo em favor de Putin e da Rússia. O mesmo se aplica às chamadas subcomissões de Smolensk, cuja principal tarefa é divulgar a teoria absurda dos russos terem removido a parte danificada do avião.

O conflito com a União Europeia, Alemanha, França, República Tcheca, Itália, Grupo Visegrad e o último com a Ucrânia é o mais puro dos sonhos de Putin. Contatos apenas com políticos pró-americanos. Todos esses movimentos do PiS são feitos em um momento em que a Rússia mantém a anexação da Crimeia e ocupa o leste da Ucrânia. Você pode imaginar um momento mais estúpido no conflito com o Ocidente e a Ucrânia? A única explicação para isso é o acordo com Putin.

Política de justiça
As tentativas de liquidar o poder judicial independente do Tribunal Constitucional e a PKW (Comissão Estatal das Eleições) são atos de fato que nos colocam no caminho da saída da União Europeia. A dissolução da UE é o sonho de Putin. Sem um poder judiciário independente e eleições independentes, vamos pousar de uma forma ou de outra fora da UE. À mercê de Putin.

Política interna
A perseguição de manifestantes, casos da participação de criminosos em manifestações, apoio a ações nacionalistas e o apoio à marcha de tolerância racista são ações que prejudicam a imagem da Polônia como país ocidental. Esse é o propósito deles. Nada mais pode ser explicado além disso. Trata-se de provocar o Ocidente numa reação que mais tarde pode ser retratada como um ataque à Polônia.

O objetivo é sair da UE
O objetivo óbvio e final de todos esses esforços é realmente sair da UE. Este é também o plano estratégico da Rússia para a Polônia. Acho que Putin e Kaczyński devem se dar muito bem. Talvez às custas da Ucrânia. Isso explicaria ações irracionais destinadas a aquecer a animosidade mútua e a preparar sentimentos anti-ucranianos na Polônia. Penso que a próxima etapa das ações de Putin em relação à Ucrânia será correlacionada com os discursos revisionistas da Polônia. Tal como em Zaolzie Dois. A mesma estupidez da equipe atual como este sanatório de 1938. E o mesmo pode trazer o efeito ... Tusk advertiu sobre o plano do Kremlin e certamente ele não escreveu nada acidentalmente hoje.

E, finalmente, lembre-se. Quando o ex-primeiro-ministro Tusk falou sobre o escândalo que destruiu o apoio ao PO, disse que aquilo tinha sido "escrito em cirílico". Hoje, sabemos muito sobre o fato de que, além dos russos, os dedos das pessoas estavam relacionados aos do atual poder da República. A aliança de Kaczyński com Putin começou?

Fonte: WP.PL
Tradução para o português: Ulisses Iarochinski

terça-feira, 7 de novembro de 2017

Primeiro Congresso Mundial Polaco em Varsóvia

Castelo Real de Varsóvia
Polacos de todo o mundo se reuniram em Varsóvia na última sexta-feira (3/11) para realizar o Primeiro Congresso Mundial de Polacos.

O evento contou com a presença de pessoas de origem polaca que vivem em países como os Estados Unidos, o Canadá, Emirados Árabes Unidos, Brasil, Bielorrússia e Alemanha.

Mais 400 pessoas estiveram reunidos no Castelo Real de Varsóvia. Discutiram questões-chave para a Polônia e os emigrantes polacos e seus emigrantes ao redor do mundo, incluindo a reforma econômica e educacional. O objetivo do encontro foi desenvolver melhores mecanismos de cooperação entre os polacos no mundo e trocar experiências neste campo.

O lema do evento foi a "estratégia para a Polônia além das divisões".

"Este grupo não se cooperou até agora, porque foi dividido em" Polacos "e" Polacos no exterior". Mas pensamos que estamos todos juntos". Disse Hambura.

O que ele quis dizer é que as divisões ocorridas no seio do mundo polaco com denominações como poloneses, polônicos e "polonijne" só fizeram separar os polacos em classes diferentes.

Como se quem nasce na Polônia fosse diferente daquele que nasce no exterior, mesmo tendo o mesmo sangue correndo nas veias.

Também invenções de termos gentílicos para fugir de preconceitos como o que aconteceu no Brasil, em 1927, quando parte de uma elite polaca de Curitiba criou o termo polonez, e que acabou virando polonês com a reforma ortográfica de 1941.

Stefan Hambura, o organizador do Congresso, exortou os polacos ao redor do mundo a "unir as divisões".

"Quando trabalhamos juntos, não haverá mais" campos de concentração de polacos. Ninguém deverá permitir que ele seja escrito ou falado em algum lugar, e acho que é hora de unir e trabalhar juntos", disse Hambura.

Ele informou que uma das principais demandas da Associação era introduzir tais mudanças na constituição que permitiriam que vinte senadores fossem eleitos pela Polônia.

"Só então seremos capazes de ativar polacos que vivem fora da Polônia", disse Hambura.

Na sua opinião, a Polônia tem muito potencial para com "interesses polacos e no cuidado dos polacos".

Ele acrescentou que a Associação apelaria ao presidente Andrzej Duda para que este postulado fosse incluído em um referendo sobre a Constituição que ocorrerá em novembro do próximo ano.

No plano do 1º Congresso, que foi realizado sob o slogan "Estratégia para a Polônia sobre as divisões", houve discussões com a participação de especialistas, representantes da Polônia e autoridades estatais, entre outros, sobre temas como:
  • "Cooperação internacional dos polacos na economia, ciência e cultura", 
  • "Estratégia de reforma da educação e reforma da educação e melhoria dos funcionários" ou
  • "Estatuto dos polacos no mundo".

A vice-presidente do Congresso Mundial dos Polacos, Krystyna Krzekotowska, disse que sobre o status dos polaco no mundo "ainda há muito o que fazer".

Ela enfatizou que a iniciativa deste tópico teve uma resposta favorável das missões diplomáticas polacas. "Queremos que a diplomacia social fortaleça a diplomacia profissional", enfatizou.

Na sua opinião, é crucial, neste contexto, iniciar a assistência jurídica aos polacos que vivem no exterior. "Algumas iniciativas estão paralisadas pelo medo das pessoas não terem um senso de segurança correto", disse ela.

Krzekotowska acrescentou que, na reunião da sexta-feira, o que se viu foi "o fermento de uma nova qualidade de cooperação ou proteção mútua".

"Estamos dando as mãos para ter a coragem de liberar o potencial latente dos polacos na Polônia e no exterior", disse Krzekotowska.

Ex-cônsul da República da Polônia, Sylwester Szafarz estimou que as divisões entre os polacoss estão se tornando cada vez mais difundidas, o que resulta em uma deterioração da cooperação entre eles e o status da Polônia em diferentes países.

"Precisamos começar analisando a situação em que estamos. Não sabemos exatamente qual é o status dos polacos no mundo. Não há uma análise global da situação, e se desenvolvemos essa análise, elaboremos um programa pragmático realista."- disse Szafarz.

Na opinião dele, novas formas de promover a polonidade no mundo precisam ser elaboradas. "Hoje, cada nação se considera a mais importante. Existe um fortalecimento da polêmica e não da promoção da polonidade no mundo, o que é uma competição maluca", afirmou.

Segundo ele, o congresso será um "trampolim" para a uma nova situação no mundo que exige elaborar um novo programa e encontrar novos métodos de ação.

O objetivo da Associação do Congresso Mundial dos Polacos, como afirmado no site dela própria, é manter as comunicações e a cooperação polaca na Polônia e no exterior, para manter as tradições nacionais, para cultivar a polonidade, apoiar o desenvolvimento econômico, desenvolver ciência, educação e educação, bem como desenvolver atividades culturais, arte, proteção do patrimônio cultural e tradição.

Stefan Hambura, presidente da Associação Mundial do Congresso Polaco, disse que os polacos que vivem dentro e fora do país juntos totalizam 60 milhões de pessoas, além de milhões de descendentes. E não apenas a população oficial da Polônia de apenas 38 milhões de habitantes.

O evento foi aberto por Stefan Hambura, presidente do Congresso Mundial dos Polacos e pelo Dr. MBA Bart Tkaczyk, da Fulbright Scholar (Universidade da Califórnia, Berkeley), com a palestra "Liderança - Tendências e Mitos".

Depois aconteceram painéis durante todo o dia, divididos em:

11:30 - 12:30
1. Painel I - (Sala de Concertos) Estratégia para a Polônia e cooperação internacional dos polacos no campo da economia, da ciência e da cultura, como alavanca para o desenvolvimento.

Moderador: prof. Dariusz Czajka, reitor da Escola Superior de Direito e Administração Europeia de Varsóvia.

  • Anatol Velikin, presidente da Associação Empresarial Polaca na República da Bielorrússia.
  • Dr. Marek Ciesielczyk, iniciador do II Fórum Econômico Polaco no Mundo, em Tarnów.
  • Mestre engenheira Elizabeth Sieroń, Polônia no Canadá.
  • Dr. Christoph Musialik, Polônia na Alemanha.
  • Prof. Anna Kuligowska-Korzeniowska, Academia de Teatro A. Zelwerowicz de Varsóvia.
  • Mestre engenheiro Wojciech Stan Mazur, Mechanical LLC, Stanford, Polonia dos Estados Unidos.
  • Paulina Kopestinsky - artista, formada pela Academia de Belas Artes de Moscou.
  • Dra. Ewa Wierzbowska, presidente da Fundação para Distúrbios Endócrinos.
  • Walentyna Szymańska, presidente da Associação Polaca Polônia Respublika.
  • Coronel Krzysztof Przepiórka, ex-soldado do GROM.

12:30 - 13:30
2. Painel II - (Sala de Concertos) - O status dos polacos no mundo
Moderador: Dra. Iwona Zielinko, presidente da Fundação para a Direção da Mulher.

  • Senador Artur Warzocha, vice-presidente do Comitê de Emigração e Comunicações com os Polacos no Exterior no Senado da República da Polônia.
  • Kazimierz Zdunowski, presidente da Câmara de Comércio e Indústria Polaca-Bielorrussa.
  • Aleksandra Biniszewska, presidente da Fundação Kresów e Lwów
  • Paweł Lisiecki, membro do Parlamento polaco
  • Dr. Sylwester Szafarz, ex-Cônsul Geral e Embaixador Adjunto na China.
  • Marek Czernecki, vice-presidente do Congresso Mundial dos Polacos.
  • Maciej Jasiński, da Prefeitura da Cidade de Marki.
  • Bożena Łojko, presidente da Fundação "Zerwane Więzi"
  • Dra. Katarzyna Juszczyńska, diretora e palestrante de estudos de pós-graduação "Organização e gerenciamento de ensaios clínicos" da Universidade de Łazarski, de Varsóvia.

14:30 - 15:30
3. Painel III - (Sala de Concertos) - Estratégia para a reforma da educação e e formação dos advogados
Moderador: Maria Silzak, presidente da Associação Europeia dos Advogados.

  • Profa. Krystyna Leśniak-Moczuk, Universidade de Rzeszów.
  • Profa. Zofia Wysokińska, Ministério do Desenvolvimento da Polônia.
  • Juíza Urszula Klejnowska, Ministério da Justiça da Polônia.
  • Advogado Dr. Mariusz Zagórski, Universidade de Varsóvia.
  • Dr. Dominik Wagner, Associação Alemã-Polaca de Advogados.
  • Dr. Irena Kleniewska, professora assistente da Universidade Łazarski, de Varsóvia.
  • Elżbieta Maria Komorowska, consultora de educação para o Primeiro Congresso Mundial dos Polacos.


15:30 - 16:30
4. Painel IV - (Sala de Concertos) - O programa "Apartamento Plus" e construção de habitação, como o volante da economia - mudanças na lei da habitação e cooperativa
Moderador: Dra. Krystyna Krzekotowska, Vice-Presidente do Congresso Mundial dos Polacos, palestrante e chefe de estudos. Diploma de Pós-Graduação em Gestão, Mediação e Avaliação da Propriedade da Universidade de Łazarski.

  • Magdalena Malinowska-Wójcicka, Ministério da Infra-estrutura e Construção da Polônia.
  • Grzegorz Okoński, diretor do escritório de política de habitação do escritório da cidade de Varsóvia.
  • Jerzy Krzekotowski, presidente da Associação Polaca de Habitação, Desenvolvimento Urbano e Proteção Ambiental
  • Andrzej Półrolniczak, Presidente da União das Cooperativas de Habitação.
  • Krystyna Szczęsna, ex-funcionária do Ministério da Cultura e Patrimônio Nacional da Polônia.
  • Edyta Palczewska, Faculdade de Direito e Administração Cardeal Stefan Wyszyński, de Varsóvia.
  • Paulina Szczygieł, estudante da Universidade Łazarski, de Varsóvia.

16:30 - 17:00
Encerramento com show artístico de Izabela Kopeć, Julia Pilch e Maria Pilch (com música de Marcin Kamiński e letra de  Małgorzata Gergas) e coquetel.

Num futuro imediato deverão acontecer outros congressos em diferentes partes do mundo.

Fonte: Rádio Polska / I Congresso Mundial de Polacos /Agência Estatal de Notícias Polaca - PAP

domingo, 29 de outubro de 2017

Polônia quer a estátua que a França quer mutilar

Foto: AFP / Damien Meyer
A primeira-ministra da Polônia, Beata Szydło, se ofereceu neste sábado para "salvar" uma estátua de seu compatriota, o falecido papa João Paulo II, da "censura" francesa e acolhê-la em solo polaco, se as autoridades francesas decidirem remover uma parte do monumento.

Em entrevista à agência polaca "PAP", Szydło reagiu à decisão do Conselho de Estado francês, a máxima instância administrativa do país, que ordenou na semana passada a retirada da cruz presente em uma estátua de João Paulo II na pequena cidade de Ploërmel, no oeste do país, porque este símbolo viola o laicismo estabelecido pela legislação francesa.

"O ditado da correção política - da secularização estatal - dá espaço a valores estranhos a nossa cultura e conduz ao terror na vida cotidiana dos europeus", advertiu Szydło.

Assim, a primeira-ministra se comprometeu a salvar o monumento e a transferi-lo para solo polaco "se as autoridades francesas e a comunidade local estiverem de acordo".

Após assinalar que João Paulo II advertiu que a democracia sem valores conduz ao totalitarismo, Szydło afirmou que o papa, "um grande polaco e um grande europeu", é o símbolo de uma Europa unida e cristã.

Em abril de 2015, um tribunal de Rennes determinou que a estátua fosse totalmente retirada, com base na reivindicação da Federação do Livre Pensamento do departamento de Morbihan, onde fica Ploërmel, e de dois moradores da cidade. Esta decisão, no entanto, foi anulada em dezembro daquele mesmo ano pelo tribunal administrativo de apelação de Nantes.


Agora, o Conselho de Estado aprovou parcialmente a decisão do tribunal de Rennes, ao determinar a remoção somente da cruz desta estátua que está na praça de Ploërmel, na região da Bretanha, desde 2006, quando sua instalação foi aprovada pela Câmara Municipal.

A estátua, doada pelo artista russo Zourab Tsereteli, foi instalada em uma praça em Ploërmel, sob um arco adornado por uma cruz, após uma deliberação da comunidade em 28 de outubro de 2006.

A obra tem 7,5 metros de altura e possui em seu topo um arco e uma cruz. Para o Conselho de Estado, segundo a legislação francesa, o arco não constitui um elemento que simboliza a religião, mas a cruz sim.

Se não retirar a cruz, o município terá de pagar 3 mil euros à Federação do Livre Pensamento, que fez a queixa.

Fontes: agências EFE e PAP