quinta-feira, 8 de março de 2018

A luta das polacas numa Polônia invadida

Dizendo Não às Crianças, à Cozinha, à Igreja:
As Pioneiras dos Direitos das Mulheres na Polônia

Sufragistas demonstrando como ganhar dinheiro com esfregões e vassouras - Varsóvia, 1938. Foto: FoKa / Forum
Muitas heroínas importantes lutaram contra "mulheres sendo sacrificadas à mercê de potes e vassouras". Mas sua história ainda tem uma triste marca: muitas de suas demandas ainda não são atendidas até hoje.

Isto foi na segunda metade do século dezenove. A sociedade polaca vivia dividida em três territórios ocupados por monarquias estrangeiras, e as leis em cada um destes três territórios invadidos (Rússia, Áustria e Prússia - Alemanha) era muito opressiva contra as mulheres. Na parte alemã, havia umaa regra expressa por "Kinder, Küche, Kirche" ("Crianças, Cozinha, Igreja"), e na Rússia tzarista, as mulheres eram de fato, sujeitas aos seus maridos e pais.

As mulheres não tinham direito de votar nem frequentar escolas em nenhum dos territórios ocupados. Na Galícia austríaca (província no Sudeste polaco) elas também não podiam se filiar a partidos políticos. Ao mesmo tempo, as derrotas nas várias revoltas polacas contra as ocupações naquele período levaram a uma espécie de matriarquia.

Muitos homens polacos morreram combatendo os inimigos externos. Muitos foram forçados a emigrar ou foram exilados compulsoriamente na Sibéria. Assim, as mulheres tiveram que assumir os papéis tradicionalmente reservados aos homens na sociedade polaca. Foi nesse contexto que o movimento feminista floresceu em terras polacas.

* (sufragista = aquela que defende a extensão dos votos a todos, sem distinção de raça, sexo, poder econômico, origem etc.)

IRMÃS E ENTUSIASTAS

Retrato de Klementyna Hoffmanowa, 1834 - Foto: POLONA / www.polona.pl
Klementyna Hoffmanowa é a figura que geralmente está no início de qualquer história sobre o feminismo polaco.
É verdade que ela era uma mulher independente, que vivia apenas de sua profissão de escritora e atividade pedagógica, o que convenhamos naqueles dias, era certamente algo muito raro para uma mulher.
Mas ela era feminista?
Klementyna popularizou a educação das moças, mas seus trabalhos revelavam a antiga distribuição tradicional de papéis diferenciados para homens e mulheres.


Narcyza Żmichowska. Foto: Piotr Mecik / Fórum
O verdadeiro "motim feminista" na Polônia foi fomentado por suas alunas, principalmente uma delas: Narcyza Żmichowska.

Depois de se formar no Instituto das Governantas, em Varsóvia, a ex-aluna se tornou professora particular da família Zamoyski, em Paris.

Enquanto se ocupava das crianças da mansão, Narcyza entrou em contato com o movimento democrático francês e absorveu as ideias da primeira onda de feminismo daquele país. Esta participação acabou causando a perda do emprego na casa dos milionários polacos.


Dia de lavanderia: imagem humorística de 1901 - Foto: Roger-Viollet / East News
Narcyza voltou para a Polônia uma mulher mudada. Ela se envolveu em manifestações educacionais e públicas (ela até ficou presa algum tempo por causa disso), e chocou as pessoas com seu "estilo de vida masculino" (montando cavalos e fumando charutos).

Narcyza reuniu um círculo de apoiadoras que criou um grupo informal chamado "Entuzjastki" ("As entusiastas"). Seu objetivo era aumentar a influência feminina na vida pública e garantir a igualdade de acesso à educação.

Aquelas polacas promoveram ideias de autorrealização e independência econômica. Żmichowska escreveu: "Estude se você puder. Aprenda, se puder, e considere ganhar o suficiente para cuidar de si mesma. Porque, em caso de necessidade, ninguém a sustentará com apoio e cuidado".


Os textos de Żmichowska foram publicados na Pierwiosnek (prímula). Descrita como "uma revista composta apenas de textos de senhoras", foi a primeira publicação em idioma polaco feita estritamente por mulheres.

As atividades do grupo, baseavam-se na ideia de Żmichowska de "Posiestrzenie" (literalmente "irmandade"), ou seja, de uma afirmação das amizades platônicas entre mulheres. Aquelas mulheres se opuseram a casamentos arranjados sem amor, que elas alegavam serem simplesmente contratos financeiros entre famílias.

Outras membros do grupo Entuzjastki incluíam Eleonora Ziemięcka (a primeira filósofa feminina polaca) e Bibiana Moraczewska, escritora e ativista envolvida em questões ligadas à sociedade e à independência e uma conspiradora atrevida.

As ideias do Entuzjastki floresceram nas próximas gerações. Emergindo também deste período estava Ewelina Porczyńska, mãe de Paulina Kuczalska-Reinschmit, que foi apelidada de "hetman do feminismo polaco", e Wanda Grabowska, mais tarde Żeleńska, mãe de Tadeusz Boy-Żeleński, o homem que foi o principal feminista da Segunda República polaca.

*(hetman = condestável, ou maior posto militar do reino só superado pelo rei)

EXIGINDO DIREITOS HUMANOS


Maria Dulębianka em cartão postal pré-guerra - Foto: www.cyfroteka.pl
Entre as muitas demandas do movimento sufragista durante o período das ocupações estrangeiras na Polônia, duas delas vieram fortemente à tona: direitos políticos e igual acesso à educação.

A ação que causou a maior agitação (hoje, podemos chamá-la de "performance") foi quando Maria Dulębianka, uma companheira muito próxima da escritora Maria Konopnicka (escreveu o clássico da literatura polaca "Pan Balcer w Brazylii" - O Senhor Balcer no Brasil), participou da eleição para o Sejm (Câmara dos Deputados) da Galícia austríaca, em 1908.

Dulębianka recebeu mais de 400 votos (dos homens, naturalmente). Contudo, apesar desse resultado respeitável, sua inscrição como candidata foi rejeitada "devido a questões formais".

* O romance "Pan Balcer no Brasil" descreve a adaptação dos imigrantes polacos nas colônias de Curitiba e Sul do Paraná. Konopnicka procurou retratar a vida do engenhoso ferreiro Sr.Balcer. A obra apresenta a vida de Jósef Balcerzak, que imigrou para o Brasil, mas, desiludido com a “Nova Polônia” ultramar, onde encontrou “um país maravilhoso, porém hostil” (SIEWIERSKI, 2000, p. 113), decidiu retornar ao seu país de origem.
*“Nova Polônia”...Assim era chamado o Paraná, na imprensa polaca da época. 

Sufragistas britânicas em 1913 - Foto: AKG / East News
As sufragistas polacas não foram presas ou espancadas como suas colegas britânicas, mas seus slogans foram tratados por muitos com aversão e escárnio.

A imprensa imprimiu caricaturas condenatórias e comentários sobre elas, criticando seu compromisso com "assuntos triviais", enquanto a Polônia era mantida em cativeiro. "Uma mulher está por fora da sua própria nação?", Retrucou Dulębianka.

Rosa Luxemburg durante um discurso em Stuttgart, 1907 - Foto: East News
Mesmo o espectro político mais a esquerda sempre sabotou suas ações. Em seu livro "Damy, Rycerze i Feministki" ("Damas, Cavaleiros e Feministas"), Sławomira Walczewska escreveu que "os socialistas ofereciam palavras de apoio aos sufragistas durante seus comícios, mas ao mesmo tempo proibiam seus membros de participar de reuniões de sufragistas".

Nascida na bela cidade polaca de Zamość (atualmente no Leste da Polônia), Rosa Luxemburg escreveu que as mulheres burguesas que "saboreiam os frutos prontos da dominação das classes", acrescentam "um traço burlesco" ao movimento sufragista. Na opinião de Rosa, a emancipação das mulheres teria que acompanhar uma revolução social:

"As mulheres proletárias, as mais pobres dos pobres, as mais privadas daqueles que não têm direitos: venham lutar pela libertação das mulheres e da humanidade contra as atrocidades da dominação capitalista".

O movimento das mulheres se declarou apolítico, mas não conseguiu superar as divisões da nação. As tentativas de estabelecer cooperação entre ativistas polacos, judeus ou rutenos (os atuais ucranianos) muitas vezes se desmoronaram devido a antagonismos nacionalistas. Esta situação continuou mesmo depois que a Polônia recuperou a independência, em 11 de novembro de 1918, depois de 127 anos de ocupação estrangeira. Período em que a Polônia foi apagada do mapa do mundo.

Emancipadas em 1912, Berlim - foto: AKG-Images / East News
É impossível escrever sobre o movimento das mulheres no século 20 sem mencionar Paulina Kuczalska-Reinschmit, fundadora da Związek Równouprawnienia Kobiet Polskich (A Associação Polaca da Igualdade das Mulheres) e editora-chefe da revista Ster.

Ster deveria ser uma plataforma para troca de informações entre sufragistas espalhadas pelos três territórios invadidos e ocupados na Polônia. Ela publicou não apenas textos humorísticos, mas peças literárias de Orzeszkowa, Konopnicka e Żeromski, e tentou atrair um público maior com uma coluna regular de Ludwika Ćwierczakiewiczowa, autora de livros de culinária e guias para donas de casa, que eram muito populares na época.

MULHERES FORTES
Membros da Sociedade Lublin para a Promoção da Educação "Światło" da cidade de Nałęczów: Faustyna Morzycka, Stefan Żeromski, Gustaw Daniłowski, Przemysław Rudzki, Helena Dulęba, Kazimierz Dulęba, Felicja Sulkowska, 1906.
Foto: POLONA / www.polona.pl
A maioria das sufragistas estava envolvida em atividades educacionais, especialmente para aqueles excluídos ou privados de acesso à educação. Foram estabelecidas iniciativas, muitas delas ilegais, como as salas de leitura para mulheres, "Universidades de Vôo" e "Kobiece Koła Oświaty Ludowej" (Círculos educativos para mulheres).

Figuras importantes estavam incluídas nestas atividades como: Faustyna Morzycka, organizadora de grupos educacionais e membro do PPS - Partido Socialista Polaco, que inspirou o escritor também polaco, Żeromski, a escrever a história da Siłaczka (Mulher forte), Filipina Płaskowicka, fundadora da Koło Gospodyń Wiejskich (A Associação das Mulheres Rurais) e Stefania Sempołowska, que diziam ter "participado de tudo o que aconteceu na Polônia durante seus 50 anos de vida ativa".

Reprodução: U Źródeł Kwestii Kobiecej Fonte da questão das Mulheres) por Kazimiera Bujwidowa, 1910, Cracóvia; Czy Kobieta Powinna Mieć Te Same Prawa Co Mężczyzna? (As mulheres devem ter os mesmos direitos que os homens?), 1909, Cracóvia; e um retrato de Kazimiera Bujwidowa - Foto: POLONA / www.polona.pl
Kazimiera Bujwidowa, fundadora da primeira escola secundária para meninas na Polônia, foi incansável em sua luta pelas mulheres terem igual acesso à educação.

Em sua escola, as alunas podiam fazer um exame final, que era o primeiro passo para se candidatar a uma vaga na universidade, algo inédito até então para as mulheres.

Bujwidowa também iniciou uma campanha para que as mulheres se candidatassem à Universidade Iaguielônica (a mais antiga e prestigiada universidade polaca, de 1364). Instituição que se tornou a primeira no país a aceitar estudantes do sexo feminino, em 1897.

Outra questão importante impulsionada pelas sufragistas foi o direito dos trabalhadores. A desproporção entre os salários entre os sexos era enorme e as mulheres eram muitas vezes despedidas quando se casavam ou ficavam grávidas.

O tráfico de seres humanos também era um grande problema social. Nas cidades e aldeias da Europa Centro-Oriental, muitos criminosos enganavam as mulheres não privilegiadas, oferecendo-lhes empregos lucrativos, apenas para colocá-las em bordéis.

A máfia judia Izvi Migdal, que atuava em Varsóvia, Rio de Janeiro e Buenos Aires traficou para o Brasil e Argentina várias moças eslavas de origem judaica para serem vendidas no Largo da Carioca e na Boca bonairense. Estes mafiosos judeus se casavam com moças nas pequenas vilas da Europa Oriental e depois vendiam as jovens esposas na América do Sul como mercadoria. Uma das repercussões desta prática foi o termo "polaca" ser associado no Brasil à prostitutas cariocas e obrigar a elite polaca curitibana a criar o termo "polonês". A tentativa de fugir do preconceito ao longo dos anos se revelou também preconceituoso por discriminar o correto gentílico em língua portuguesa: "polaco". (O Brasil é o uníco dos 8 países lusófonos a não usar a palavra "polaco" em referência à etnia). O termo "polonês" usado no Brasil foi criado em 1927, em Curitiba. Em 1880, o Imperador D. Pedro II expulsou 20 destes cafetões judeus do Brasil acusados de tráfico de mulheres.

Ativistas polacas lutaram contra este tráfico organizando missões nas estações de trem, onde abordavam à revelia de seus "maridos" aquelas pobres mulheres de origem judaica que chegavam. As ativistas procuravam lhes dar trabalho e providenciavam acomodações, ou quando não, ajudavam-nas a encontrar um emprego.

"QUEREMOS UMA VIDA COMPLETA!"
Uma apresentação de "Casa de Mulher" de Zofia Nałkowska no Teatro Polaco, em Varsóvia, 1930. A foto inclui o escritor e as atrizes. Sentado a partir da esquerda: Maria Przybyłko-Potocka, Zofia Nałkowska, Stanisława Słubicka, Wanda Barszczewska e Honorata Leszczyńska. Da esquerda: Karolina Lubieńska, Wanda Siemaszkowa, Mila Kamińska e Janina Muncklingrowa. Foto: Narodowe Archiwum Cyfrowe / www.audiovis.nac.gov.pl
A geração feminista mais jovem, que, parafraseando Zofia Nałkowska, já sabia que elas "têm o direito de ter direitos", era algo a mais do que ter direito à voto ou acesso à educação, mas sobre mudar costumes rígidos e hipócritas. Izabela Moszczeńska escreveu em seu artigo de 1904, Cnota Kobieca (Virtudes das Mulheres):

"Conceder às mulheres o direito de estabelecer e romper relacionamentos românticos, sem limites, sem escrúpulos, sem remorsos, está muito além das fronteiras da visão de mundo atual (...) Este tipo de moral degrada as mulheres e as reduz ao papel de vaca bem comprada e bem protegida".

Moszczeńska alertava para tópicos de uma moralidade considerada audaciosa naquele período, e que por isso mesmo, ultrapassou não apenas a opinião pública, mas também dividiu a comunidade feminista. O discurso de Nałkowska, Uwagi o Etycznych Zadaniach Ruchu Kobiecego (Observações sobre as tarefas éticas do movimento das mulheres), no Encontro da Mulher Polaca (Zjazd Kobiet Polskich) em 1907, terminou em grande escândalo. Houve tentativas de interromper a leitura. Solidárias a Moszczeńska, Konopnicka e Dulębianka deixaram a sala indignadas com tantas interrupções. O discurso de Nałkowska incluiu o seguinte:

"Nosso objetivo é reavaliar completamente a ética governante de hoje. A divisão das mulheres seja moral ou imoral, baseia-se no ponto de vista masculino. Nossa libertação deve nos dar um novo critério de classificação, um novo censo ético. Nem nossas qualidades eróticas, nem nossa atitude em relação aos homens devem ditar nossa moralidade".

A escritora terminou seu discurso com uma frase marcante: "Queremos uma vida completa!".

Ela escreveu em seu diário:

"Um homem pode conhecer a plenitude da vida, porque ele vive como homem e como ser humano. Mas para uma mulher, há apenas uma fração de vida - ela deve escolher entre ser uma mulher ou um ser humano".

É possível que conclusões semelhantes tenham influenciado a sua rival, Maria Komornicka, jovem poeta a mudar suas posições e adotar um pseudônimo e modo de ser.

Em 1907, Komornicka queimou publicamente sua roupa, vestiu roupas masculinas e começou a se apresentar como Piotr Odmieniec Włast. Sua família pensou que ela tinha ficado louca e a colocou em uma instituição psiquiátrica.

TORNANDO-SE CIDADÃS


Aleksandra Piłsudska em 1930 - Foto: POLONA / www.polona.pl

Em 1903, Paulina Kuczalska-Reinschmit escreveu:

"Ao longo da história, em todos os períodos em que as sociedades floresceram ou tiveram graves turbulências as mulheres foram levadas à luz. Um escravo passivo que sempre participa de revoltas momentâneas, uma vez que a era pacífica retorna, é novamente deixado nas sombras da casa - sem ter sua recompensa pelas realizações conjuntas".

Quando a Polônia estava à beira da independência do jugo estrangeiro, tornar a legislação igual para ambos os sexos não era uma questão proeminente. O primeiro rascunho da Constituição, em 1917, não considerou o tema em absoluto.

O marechal Józef Piłsudski, era um daqueles que não estava convencido e pensava que as mulheres eram conservadoras por natureza e suscetíveis à manipulação.

No entanto, em 28 de novembro de 1918, um grupo de sufragistas se reuniu fora de sua casa no bairro de Mokotów, em Varsóvia e se manifestaram pela igualdade dos sexos numa nova Polônia liberta. Os guarda-chuvas que elas costumavam bater nas janelas logo se tornaram símbolo do movimento.

O marechal as manteve esperando por várias horas na chuva e congelando no frio, lá fora, mas finalmente se deu por vencido.

Uma das razões para sua capitulação foi certamente Aleksandra Piłsudska, sua esposa na época, que também era ativista feminista. A Constituição foi, portanto, alterada para se tornar os sexos iguais em direitos e deveres e incluiu o direito das mulheres de votar no país recém-reformado.

Jozef Piłsudski é recebido em uma estação de trem em Varsóvia após o seu regresso da prisão em Magdeburg, 11 de novembro de 1918 - Foto: Piotr Mecik / Forum
Depois que a declaração foi escrita no papel sobre a igualdade de gênero, muitas ativistas passaram a um ativismo social mais amplo: queriam agora elevar os padrões da educação, melhorar as condições das mães e fazer campanhas contra o alcoolismo.

Mas outros viram isso como um movimento apenas simbólico e não real, por isso não aceitaram que a luta acabasse apenas nos artigos da Constituição.

As mulheres finalmente ganharam direitos eleitorais naquele 28 de novembro de 1918 pelo decreto do Chefe de Estado Provisório Józef Piłsudski.

O decreto em relação à lei eleitoral estipulava que para o Sejm (Congresso Legislativo) "todas as cidadãs são eleitoras nas eleições para o Sejm" (artigo 1) e "Nas eleições para o Sejm todos o são, os cidadãos do país com direito eleitoral ativo" (artigo 7 ). Essas disposições foram mantidas pela Constituição de março.

As primeiras mulheres polacas a tomar assento no parlamento polaco foram Gabriela Balicka, Jadwiga Dziubińska, Irena Kosmowska, Maria Moczydłowska, Zofia Moraczewska, Anna Piasecka, Zofia Sokolnicka e Franciszka Wilczkowiak.

* Por sua vez, a mulher brasileira só viria a conquistar seu direito ao voto mais de uma década depois. No código eleitoral Provisório (Decreto 21076), de 24 de fevereiro de 1932, durante o governo de Getúlio Vargas, o voto feminino no Brasil foi assegurado, após intensa campanha nacional pelo direito das mulheres ao voto.

TEMAS DE "GÊNERO" NA SEGUNDA REPÚBLICA POLACA


Maria Pawlikowska-Jasnorzewska em seu apartamento em Cracóvia.
Foto: Narodowe Archiwum Cyfrowe / www.audiovis.nac.gov.pl
Apesar de ser uma letra apenas temática na Polônia de hoje, a letra ''G" não foi usada comumente durante o período entreguerras.

Muitos dos debates ideológicos de então, tinham muitas semelhanças com as disputas atuais. Um dos temas mais interessantes era a lei anti-aborto que recomendava punição de até cinco anos de prisão. Escrevendo na década de 1930, Justyna Budzińska-Tylicka comentou:

"Quando uma mulher não quer, ou não pode dar à luz; Quando ela se encolhe com o pensamento de dar à luz uma criança indesejável, ela é forçada a dar à luz, contra a vontade dela, uma criança cuja chegada poderia trazer um destino trágico para a mãe - então essa mulher é submetida ao antigo, a uma legislação masculina não realista e rigorosa em nosso código penal que a obriga a dar à luz, que exige a maternidade forçada. Um código que grita com uma voz desumana: mulher, você deve dar à luz"!

Budzińska-Tylicka, cujo trabalho ligou práticas médicas com atividades feministas e socialistas, contribuiu para a fundação da primeira Clínica de Maternidade Consciente da Polônia, voltada para mulheres de classes sociais mais baixas.

Havia uma inscrição acima da porta da frente da clinica com os dizeres: "Não interrompemos a gravidez aqui - nós a impedimos". Mas os jornais em todo seu espectro político desconsideraram suas intenções e, em vez disso, escreveram extensivamente sobre como esses tipos de clínicas se inspiravam em elementos estrangeiros e por isso acabariam por levar o país ao despovoamento.

Além de sua preocupação com as mulheres, a campanha para a paternidade consciente também foi motivada pelas teorias da eugenia que eram populares na época. Na literatura, o poema Prawo Nieurodzonych (Direitos dos não-nascidos) de Maria Pawlikowska-Jasnorzewska era resumido assim:

(...) Não queremos subterrâneos sombrios, As maldições de um pai, um machado levantado, canções de ninar feitas de matadouros e gritos! 


Irena Krzywicka em seu uniforme masculino, 1914. Foto: POLONA / www.polona.pl
Dois dos outros fundadores da Clínica Consciente foram Tadeusz Boy-Żeleński e sua companheira de longa data, Irena Krzywicka.

Considerada uma das pessoas mais escandalosas do período entreguerras, Krzywicka proclamou que "o crepúsculo da civilização masculina" estava próximo e lutou por questões consideradas tabu naquela época, como direitos para minorias sexuais e o poliamor.

Ela lutou contra o aborto forçado nos subterrâneos e exigiu garantias de que as mulheres recebessem três dias de folga durante a menstruação.

Além disso, ela teve uma relação aberta com seu marido, Jerzy Krzywicki, e não escondeu ter um caso com Tadeusz Boy-Żeleński. Fato que apenas confirmava a opinião das pessoas que a declaravam como a corrupta da moralidade.

Sufragistas britânicas em 1910. Foto: East News
Em última análise, as mulheres polacas apresentadas aqui são apenas a ponta do iceberg entre centenas de mulheres esquecidas que desafiaram os estereótipos.

Todas elas são válidas de serem lembradas no dia Internacional da Mulher, isto porque, o passado não é apenas "história", mas também é "a história delas".

Fonte: Culture.pl
Texto: Patryk Zakrzewski
Tradução e adaptação: Ulisses Iarochinski

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