quarta-feira, 5 de maio de 2010

Wajda vai a Moscou

Foto: Kuba Atys

3 maio de 2010. Andrzej Wajda se ajoelha no Cemitério dos Soldados Soviéticos, em Varsóvia. O cineasta confirmou que dia 9 de maio próximo estará em Moscou para as comemorações dos 65 anos do término da II Guerra Mundial.
Como se sabe, os russos não comemoram o 8 de maio como final da segunda guerra como faz todo o mundo ocidental. Para os russos o dia é 9 de maio. Está será a primeira vez que o cineasta aceita a comemoração russa, após o fim do comunismo. O ex-presidente polaco Aleksander Kwasniewski foi bastante criticado na Polônia quando foi a Moscou, nesta data, anos atrás.
Parece que os "ventos" que derrubaram o avião de Kaczynski está provocando uma aproximação nunca antes imaginada entre Polônia e Rússia. Nem mesmo durante o período comunista isto ocorreu. Novos "ventos" devem aproximar finalmente as duas maiores nações eslavas, numa história repleta de guerras, conflitos e ódios.
Mas não é só Wajda que fará este gesto. Também o clero, intelectuais e artistas, estão apelando: 09 de maio, vamos ao cemitério dos soldados soviéticos e acendamos velas em seus túmulos. Isto é Reconciliar-se
Cemitérios espalhados por toda a Polônia guardam milhares de túmulos de soldados soviéticos. Eles morreram em 1944 e 1945, quando iam tomar de assalto Berlim. Eles lutaram contra os alemães, obedecendo ordens de seus comandos, mas também enfrentavam o inimigo com um sentimento de injustiça cravado em cada coração. Para vingar suas famílias assassinadas, eles queimaram aldeias e destruíram a cidade símbolo dos alemães. A maioria destes soldados foram enterrados em várias cidades polacas. Quase 32 mil foram enterrados em Braniewo. 22 mil nas ruas (ulica - pronuncia-se utitssa) Żwirki i Wigury de Varsóvia, 11 mil enterrados em Bielsko-Biala, 8000 em Wroclaw.
Para o jornal Gazeta Wyborcza, o cineasta Andrzej Wajda explicou e apelou para que todos os polacos se reconciliem com os russos:

"Eu vou ao cemitério e vou acender uma vela, porque os soldados soviéticos lutaram pelo justo, também pela nossa causa. Devemos fazer todo o possível para conciliar polacos e russos. Especialmente hoje, quando os russos demonstram-nos solidariedade nesta tragédia, por outro lado, ressoam vozes de pessoas que querem nos conflitar.
Péssimas relações atribuem-se polacos e russos disto, que durante décadas nos governou a União Soviética, e são muito difíceis de separar da URSS e do sistema russo.
Deve-se, finalmente, acabar os ressentimentos e suspeitas. Os oficiais polacos mortos, em Katyn, foram por ordens de Stalin. É um crime do regime stalinista, não dos russos comuns. Nós não gostaríamos que algumas décadas depois da guerra ainda estivéssemos sobrecarregados com a responsabilidade pelos crimes do comunismo. Katyn deve parar de nos arrastar, de lançar sombras sobre nossa relação.
Os russos comuns eram tão vítimas do comunismo, quanto os polacos. Eu vi como sofriam com os comunistas muitos dos meus amigos russos, como Andrei Tarkovsky e Volodya Vysotsky. Eles eram tão atormentados, como muitos polacos, e isto é difícil de imaginar. Naqueles dias terríveis, a minha amizade com Wysocki era a esperança de um futuro - que, se nós confiarmos uns nos outros, nós estaremos juntos nos momentos mais difíceis, que iremos fazer juntos no futuro."