terça-feira, 21 de junho de 2016

China assina contratos com a Polônia

Andrzej Duda e Xi Jinping
O Presidente da China, Xi Jinping, e o presidente da Polônia, Andrzej Duda, saudaram nesta segunda-feira (20/06/2016) a chegada a Varsóvia de um trem de mercadorias chinesas, simbolizando o reforço da cooperação econômica entre os dois países.

Os dois estadistas assistiram lado a lado a chegada do trem depois de 13 dias de viagem do China Railway Express, que partiu de Chengdu, capital da província de Sichuan, no sudoeste da China.

Cerca de 20 trens de mercadorias fazem semanalmente a viagem entre a China e a Polônia, transportado produtos eletrônicos, alimentos, bebidas alcoólicas e peças para automóveis.

Lançada em 2013, a viagem demora entre 11 e 14 dias, uma fração do tempo despendido pelo transporte marítimo, que é feito entre 40 e 50 dias.

Trata-se de uma das mais extensas ligações ferroviárias do mundo e faz parte da iniciativa chinesa "nova Rota da Seda".

Trata-se de um gigante plano de infraestruturas que pretende reativar a antiga Rota da Seda entre a China e a Europa através da Ásia Central, África e sudeste asiático.

Especialistas consideram que Varsóvia quer utilizar a ligação para corrigir um crônico desequilibro na balança comercial, reforçando as exportações de produtos agrícolas, como leite, carne e maçãs. A Polônia é o maior parceiro comercial da China no leste da Europa e, em 2015, as trocas comerciais somaram 15,2 mil milhões de euros, segundo dados oficiais chineses.

Xi e Duda mastigavam também uma rosada maçã polaca, à medida que o trem chegava. A Polônia, o maior produtor de maçãs do mundo, tem sido gravemente afetada pela decisão da Rússia de proibir a importação de frutas do país, como retaliação às sanções impostas pela União Europeia a Moscou, em 2014, devido à crise na Ucrânia.

Os acordos assinados durante a visita de Xi permitem ao país começar a exportar maçãs para a China. Xi Jinping urgiu ainda a Polônia a "tirar máximo proveito da sua posição como membro fundador do Banco Asiático de Investimento em Infraestruturas"(BAAI).

Visto inicialmente em Washington como um concorrente ao Banco Mundial e ao Fundo Monetário Internacional (FMI), duas instituições sediadas nos EUA e habitualmente lideradas por norte-americanos e europeus, o BAAI acabou por suscitar a adesão de mais de vinte países fora da Ásia, incluindo Portugal. Das grandes economias mundiais, apenas os EUA e o Japão ficaram de fora.

Referindo-se ao BAAI como o "maior fundo de investimentos do mundo", o vice primeiro-ministro da Polônia, Mateusz Morawiecki, disse aos jornalistas que Varsóvia está discutindo "investimentos enormes" com Pequim. "É ainda cedo para dizer que chegamos a algum tipo de conclusão", afirmou, revelando apenas que estão envolvidos "bilhões".

quinta-feira, 9 de junho de 2016

Andrzej Wajda: nacionalistas na Polônia dizem NÃO

Andrzej Wajda
"O verdadeiro cinema nacional não tem medo dos outros", diz Andrzej Wajda, cujos filmes representam uma viagem através de nossa história, muitas vezes, difícil e doloroso, mas como ele mesmo diz, está se abusando do conceito de nação, e se apropriando dele, nos dias de hoje.

"Colocamos pra fora, no meu ponto de vista, sempre a pior solução, ou seja, a nacionalidade. Encerramo-la em sua própria caldeira, cozinhando-a, odiando-nos uns aos outro e a si mesmos e não admitindo a realidade em que se está inserido no mundo. O mundo não existe para nós na totalidade, apenas em alguns pontos".

Como diz Wajda, a tarefa do artista não é favorecer a alguém ou a alguma coisa, ou a consciência dos outros. Foi isto, o que ele percebeu de si mesmo. Sua obra é um cinema com rosto humano, de pleno respeito pela tradição polaca, em história e cultura. Capaz de fazer perguntas, embora difíceis e corajosas. Um cinema que mostra o que é a liberdade, mas também mostra que isso, não é uma dádiva para sempre.

Andrzej Wajda, o diretor que concebeu as obras-primas da Polônia e do cinema mundial, como "Ziemia obiecana” (A Terra Prometida), "Popiół i diament"(Cinzas e Diamantes) e "Człowiek z żelaza" (Homem de Ferro), em uma conversa não só sobre estas coisas - que se algo é polaco é nacional - não possa ser também absolutamente, europeu.

Paweł Piotrowicz: O senhor se sente um diretor nacional?

Andrzej Wajda: Sim, eu acho que eu sou um, mas hoje este um termo que já foi apropriado pelos nacionalistas.

Piotrowicz: Seus filmes são, sem dúvida, considerados como bons nacionalistas. Não só porque o cinema criado pelo senhor, é uma viagem através de nossa história, mas porque, muitas vezes, essa é uma tarefa difícil, dolorosa.

WAJDA: Lembro-me do conceito de cinema nacional no lançamento do general Moczar. Claro que eu sabia quem ele era e quem eram os que o cercavam - as pessoas no serviço do sistema soviético. E eu não precisava saber nada mais do que isso.

Piotrowicz: Discussão recente sobre cinema nacional foi revivida e com força redobrada. Ouve-se, mesmo, que ela deve ser prioritária em nosso cinema, dedicando-se a ele algumas medidas especiais. Enquanto isso, falando com diferentes pessoas sobre cinema, a impressão é que muitos não são plenamente capazes de responder precisamente sobre a questão do que realmente seja cinema nacional.

WAJDA: Não é tão difícil. A batalha do cinema, entre aspas, nacional, teve lugar na história do cinema em várias ocasiões. A Polônia Popular foi amada num certo cinema. E muito mais amado foi o general Moczar, com um grupo de artistas que se reuniu em torno dele. Eles nos ensinaram o que era patriotismo, como procurar e como fazer filmes patrióticos. Só que seu "patriotismo" tinha como caráter idolatrar a PRL (República Popular da Polônia), que sucedeu a Polônia depois de 1945, enquanto o nosso patriotismo fluía de nossa experiência de vida.

Piotrowicz: A experiência da Segunda Guerra Mundial?

WAJDA: Minha experiência de vida alcança, ainda na Polônia pré-guerra o nacionalismo, o antissemitismo. Tal foi o caos que seguiu ao setembro de 1939, com aquela fuga do Estado e tal, em que nosso comandante-em-chefe se encontrava no estrangeiro, e o exército não sabia como se manter, porque não havia nenhuma decisão. Eu não podia compreender aquela situação. Entendia que o nacionalista, na Polônia, dizia NÃO. Aquilo foi para mim, então, um menino de treze anos, bastante óbvio. E até hoje continua a ser uma experiência dolorosa da minha vida.

Piotrowicz: Já na década de 50, Gombrowicz escreveu que era necessário "superar a polonidade", "afrouxar nossa submissão a Polônia". Ele comparava a nação à violência coletiva, antes do "nos defender".

WAJDA: A palavra "nação" está sendo muito abusada. Polonidade ... ou seja, o verdadeiro polaco tem que aceitar acriticamente tudo o que autoridade de ocasião considere justo e inviolável. Também, antes da guerra nada nos ajudou apelar, que não daríamos um botão de nosso uniforme, porque afinal não só demos o botão e o uniforme, como demos tudo. Eu não estou falando sobre a falta de patriotismo daqueles que lutaram. Todos como meu pai, um oficial, foram para o "front" lutar.

Piotrowicz: Em "Lotnej” (volátil), o senhor mostrou uma cena carregada e muito comovente da cavalaria polaca contra tanques alemães, durante a campanha de setembro.

WAJDA: Eu usei uma metáfora. Falavam na Polônia, que os sabres contra os tanques não poderiam ganhar. Criei tal imagem não para isto, para se rir daquilo, e sim para dizer como a nossa pátria pode ao se encontrar em uma situação em que não haja saída. Ao mesmo que tempo, nós os polacos, não podemos nos culpar. Em cada situação há pessoas corajosas, ousadas, e prontas para defender a pátria. A luta é a única prova de que nós não concordamos sobre uma realidade particular. Discordei tanto durante a ocupação, assim como nos tempos da República Popular da Polônia - apenas durante a PRL - completamente sob outra circunstância, em oposição ao sistema soviético, em sua área de atuação.

Piotrowicz: O cinema polaco depois da guerra, embora tenha sido criado durante a era soviética, conquistou um monte de triunfos em todo o mundo - suficiente dizer sobre três filmes seus, que receberam indicações ao Oscar na categoria de não-Inglês: "Ziemia Obiecana" (Terra Prometida), "Pannach z Wilka” (Jovens de Wilko) e "Człowiek z Żelaza" (Homem de ferro). Em que consistia sua maior força?

WAJDA: Nisso! Que nós falamos a linguagem do cinema europeu. Utilizamos principalmente a imagem, e não apenas o diálogo, já que ninguém conhecia o idioma polaco.
O cinema polaco depois de 1945 rompeu completamente com o pré-guerra, que era bastante comercial: "Co mój mąż robi w nocy” (O que meu marido faz à noite), "Pani minister tańczy” (Senhora ministro dança), e outros filmes assim como esses.
Começamos do novo. Em primeiro lugar, tivemos um tema: a guerra. Que guerra? Não é assim, em geral, apenas aquilo, que nós vivemos. De outro modo, sobreviveu à guerra Wanda Jakubowska e Aleksander Ford, ou seja, heróis em "Kanal" (Canal) ou "Popiół i diament" (Cinzas e Diamantes). Mas nada disso teria acontecido se o idioma desses filmes não tivesse sido a linguagem do cinema europeu. Se fosse um cinema criado com o pressuposto de que falávamos apenas para nós mesmos, compreensível apenas para nós ... os pobres, injustiçados polacos.

Piotrowicz: Então, o que deve ser um cinema nacional?

WAJDA: o verdadeiro cinema nacional não tem medo de outros - outros públicos, outras avaliações. Alguém ameaçou o neo-realista cinema italiano? Não. O mundo assistiu esses filmes, porque não havia tal cinema antes. Assistindo "Roma - Cidade Aberta" ou "Ladrões de Bicicleta" sobrevivemos àquele brilho. Era um mundo desconhecido, antes ausente na tela. E logo em outro momento apareceu a cinematografia nacional. Fundaram a Nouvelle Vague francesa, completamente uma outra proposta de gênero de cinema, de outro tempo, de um outro mundo.

Piotrowicz: Seu primeiro filme, "Pokolenie" (Geração), falou sobre o trágico destino dos jovens durante a ocupação, navegou é claro com fascínio pelo neo-realismo italiano, mas o seguinte, "Kanal" (Canal), iniciou a "escola do cinema polaco". E levantou considerável controvérsia com seu pessimismo.

WAJDA: Porque não havia nenhum equivalente na Polônia. Não houve filme com uma imagem daquela, antes da guerra, apenas "Zakazane piosenki” (Canções Proibidas). É claro os espectadores na Polônia preferiam ver um filme sobre isto, como os meninos estiveram lutando nas barricadas, mas infelizmente isso não era o mais importante na Revolta de Varsóvia. Mais importante foi sua derrota. E esta derrota tinha o que mostrar. Esta tentativa de escapar do gueto com a criação de canais, que se tornaram o símbolo deste desastre, foi um objeto sem precedentes no cinema polaco.

Piotrowicz: Especialmente trágico em termos das últimas cenas.

WAJDA: Mostrada, como aparece atrás das grades, onde Stokrotka e Korab chegam... Vemos um rio cinza, e sobre ele, na margem direita, edificações. Contudo, os espectadores, em 1956, que assistiram bem o filme, viram quem estava em pé, lá do outro lado. Lá, estava em pé, Stalin, que não ajudou os insurgentes, e que ficou aguardando eles morrerem. Foi suficiente, não precisava quaisquer palavras, qualquer comentário adicional.
Outra coisa, era preciso responder à pergunta, se o comandante polaco, dando ordens para o Levante, tinha qualquer base para acreditar na vitória. Descobriu-se que ele não tinha. A decisão de lançar a revolta não foi planejada sob qualquer visão política ou militar. Fala sobre isso Jan Nowak-Jeziorański, no filme "60 lat później" (60 anos depois), que fiz em 2005 [o título completo é "Jan Nowak-Jeziorański. Carteiro de Varsóvia. 60 anos depois, 1944-2004 ]"

Piotrowicz: Qual é o maior pecado do nacionalismo, que, como o senhor diz, está de volta hoje?

WAJDA: Nacionalismo é algo contra quaisquer interesses polacos. Nosso negócio e, ao mesmo tempo, nosso destino é estar na Europa, não ter medo dela. Por que estamos nesta Europa? Porque o cristianismo veio da Europa e com ele a civilização. Nós nos tornamos um país europeu. Qualquer tentativa de condenar a União Europeia, criticar o que está acontecendo com a gente, é uma tentativa de minar o status quo. Nós somos europeus.

Piotrowicz: Para o senhor, polonidade é claramente, Europeidade?

WAJDA: Para mim, polonidade é estar ciente da situação em que vivemos, e o efeito que esta ação possa se transformar em nosso favor, e não tenha se tornado um desastre, proporcionando aos polacos que sejam capazes de defender sua pátria na morte e na vida, e isso apenas em tempos de guerra. E sobre isso ainda sabemos. Mas temos que ter um sentido político. Precisamos entender a situação em que nos encontramos, e agir no âmbito deste momento.
Desde 1989, somos um país livre. Mas devemos lembrar que, na Polônia Popular, não soberana, embora escravizados, surgiram universidades do mais alto nível, foram lançados livros, que não eram apenas de literatura marxista. Nós publicamos literatura polaca e mundial, nós fizemos progresso em vários campos. Grupos de oposição foram organizados, como o Comitê de Defesa dos Trabalhadores.
Passo a passo se aproximou o momento, que culminou com a greve no estaleiro Gdańsk e a assinatura dos acordos de agosto. E esta greve, vamos ser honestos, inicialmente tinha caráter de folha de pagamento. Os trabalhadores se rebelaram porque eles queriam mais dinheiro. E foram os intelectuais que conseguiram combinar a vontade dos construtores de navios com o que era uma questão de toda a nação. Mais tarde, o combate ao comunismo foi a mais difícil e mais brilhante questão polaca conduzida, e por esta razão, saímos dela vitoriosos, e sem derramamento de sangue. É por isso que coloquei Lech Wałęsa nisto, e não em outro lugar da nossa história, como um personagem totalmente original.

Piotrowicz: O que senhor que fez, que foi diretor do filme "Wałęsa - Homem de Esperança", pensa sobre as acusações sobre o suposto passado dele como agente infiltrado do serviço secreto soviético?

WAJDA: Isto é fabricado, de plena consciência. Alguém quer perante a vitória do Solidariedade, tentar nos convencer que pessoas, que não desempenharam qualquer papel, em seguida, tenham tido um papel decisivo. Eu estava lá, vi esses eventos, tinha junto comigo uma câmera. Se eles estavam lá quando filmei aquela realidade, os teria notado, ou muito provavelmente, os teria nas imagens. De alguma forma, contudo, não os vi lá.

Piotrowicz: Qual dos seus filmes, o senhor consideraria o mais importante?

WAJDA: Para mim, o filme que desempenhou um papel importante, com certeza, foi o "Człowiek z Marmuru" (Homem de Mármore). Não havia um roteiro anterior, nem tema, não havia também qualquer herói. Este foi um dos únicos filmes, pelo menos, que não pôde ser mostrado, na época, em outros países ditos soviéticos.
Mas porque nossa consciência, como cineasta, era muito desenvolvida, éramos bem organizados na Associação de Cineastas Polacos e saíamos juntos, passo a passo, movendo-nos no limite do que podia ser mostrado na tela. É claro, que o roteiro Ścibor-Rilski também tivesse sido escrito vários anos antes, por isso, precisamos esperar pela transformação política, que deu a possibilidade de fazer o filme, assim como foi com vários outros.
Passo a passo expandimos a liberdade. E quando houve uma greve no Estaleiro de Gdańsk, na sala havia câmeras da Associação de Cineastas Polacos, graças a isso, pode-se, então, fazer o filme "Robotnicy ’80” (Trabalhadores '80). E por que "Trabalhadores '80"? Porque mais cedo, Krzysztof Kieślowski tinha feito "Trabalhadores '70". Assim foi como quê, uma continuação natural, como parte do nosso cinema.
Cheguei no lugar e ouvi de um trabalhador do estaleiro: "Que você possa fazer um filme sobre nós!". E assim surgiu "Homem de Ferro", na determinação de um homem, de um trabalhador do estaleiro, a Cinematografia estava pronta para participar naqueles eventos importantes.

Piotrowicz: E se o senhor pudesse indicar nas suas obras cinematográficas o filme mais nacionalista deles todos? Mesmo que tenha consciência das armadilhas que advenham deste termo.

WAJDA: Aponto para este filme, que é um tipo de sensação, e que a comunidade cinematográfica polaca recentemente reconheceu como o mais importante de nossa produção de filmes do pós-guerra. "Terra Prometida".
Perguntei-me o porquê desta escolha, porque não tive nenhuma ação sobre a escolha.
Eles contaram os votos, de modo que os cineastas decidiram sozinhos o resultado. Mas porque o considero, assim como você perguntou, o mais "nacionalista"?
Parece-me que este filme é patriótico entre aspas. Ele mostra que os polacos estavam indo na direção certa. Não podia ser que outros tivessem uma fábrica, e nós não. Temos pessoas ambiciosas, empreendedoras. Se eles não tiveram sucesso na primeira, segunda ou terceira vez, no final, alcançaram sucesso. É a crença de que tudo é possível. Três meninos, um polaco, um judeu na Alemanha, queriam ter a fábrica de seu tempo, era a prova de que pertencíamos a Europa.

Piotrowicz: Depois de vinte e sete anos, podemos dizer que estamos ainda testando a democracia? O que o senhor sente quando ouve da boca de alguns políticos, por exemplo, que o filme "Ida" não deveria ter ganho o Oscar, porque segundo eles, não promove o polaco, e de fato, coloca o país sob uma luz muito ruim?

WAJDA: E o que significa isso: uma luz ruim? O filme de Paweł Pawlikowski mostra-nos a história verdadeira e é um grande filme. Devemos estar orgulhosos do Oscar. Meu filme "Popioły" (Cinzas) foi muito criticado. Desceram acusações,  como se fosse possível, mostrar soldados na tela polaca, disparando contra insurgentes espanhóis. "O que é semelhante?", eu ouvi. Respondi no ato: "Um instante, misture Sienkiewicz com Żeromski".
Sienkiewicz desempenhou um outro papel e Żeromski queria mostrar o que significava buscar e acreditar na existência de alguém que iria nos ajudar a recuperar a independência. Este alguém foi Napoleão. E demos a Napoleão tudo, incluindo nossa honra. O que ganhamos? Uma história distinta.
Mas nessa situação sem esperança, assim, tão clara, apresentava-se nossa crença. Por que não mostrar? Se alguém sente bons propósitos para com a nação, então sabe, como se comete um erro, e precisa-se entender isso, e não fingir que nada aconteceu, ou negar. Não há justa causa, em que a mentira possa ajudar. Nem a magia de que a Polônia é um país escolhido pelas forças superiores para propósitos específicos.

Piotrowicz: Mickiewicz um pouco, entre aspas, não nos envenenou popularizando esta ideia do messianismo polaco como sendo o Cristo da Europa?

WAJDA: Sim, mas permita-me senhor  escolher do Teatro Nacional, atores que leiam "Pan Tadeusz" inteiro, e que o público jovem se ria - sim, isto é ridículo. Por quê? Porque este cântico de Mickiewicz mostra todos os defeitos dos polacos, todo nosso ridículo e incompetência.
Que "a nobreza no cavalo monta, e eu com filhos na cabeça, de alguma forma, isto será." Este poderia ser o lema de todo o poema, "de alguma forma, isto será." Estamos prontos, sentamos no cavalo. Bem, mas em que situação? Quem está conosco? Contra quem se apresentamos? Então, quais são vossas chances e o que se pode dar para a Polônia? Primeiro é preciso fazer esta pergunta, de fato se é um patriota? A essência do patriotismo são os Estados Unidos. O que devia ser uma força dos recém-chegados, muitas vezes fugitivos, que vinham dos mais diversos países, neste lugar livre, que era a América, foram capazes naquele país de criar uma sociedade mais organizada. Por que digo isso? Porque os americanos deram tal exemplo, que poucas pessoas têm o direito de fazer filmes patrióticos. Mas espere um minuto, quem matou os índios? Evidente que eles. E apesar disso, fizeram sobre este tema um monte de filmes. E eles dizem para si mesmos: "Bem, nós temos tantas vitórias fantásticas na lista, que podemos esquecê-la." Bem, não. Todo pecado é o mesmo. E pode-se contentar com ele, ou fingir que não é. Tal como acontece conosco, em que, tudo que é ruim, não somos nós.

Piotrowicz: Depois de vinte e sete anos, podemos dizer que ainda estamos testando a democracia?

WAJDA: Democracia é um sistema muito difícil, mas não há melhor. Passamos por todos os eventos, primeiro foi a longa luta contra a PRL que, eventualmente, ganhamos. O Solidariedade desempenhou um grande papel. Só que estava relacionado ao sindicato, e não podia governar o país. O relacionamento sindical lutava por aqueles que pagavam menos, e louvavam aqueles que davam mais, mas não podia tomar parte ativa na política, e muito menos se transformar em um partido político. Então, imediatamente após, houve dificuldades e o comunismo retornou, mas logo acabou pois, no entanto, não era comunismo. E etc.. Hoje, infelizmente, aflora da gente, segundo minha visão, sempre o pior - que é o chamado nacionalismo. Encerramo-nos em nossa caldeira, cozinhando, odiando uns aos outros e a si mesmos e não se fiando na realidade, assim como é no resto do mundo. O mundo não existe para nós, só alguns contam com ele.

Piotrowicz: Como disto tudo pode surgir uma boa mudança?

WAJDA: Bem, um momento, esta é uma boa mudança para pior. Há que se ver isto claramente. Isto, entre aspas, mudança boa, traz à tona um lado, mas não o lado maior. Apenas que as forças no Parlamento se organizaram e perderam a voz. E que, na Polônia, há uma tendência para o nacionalismo elevado ao extremo. E sobre o fato de que nas ruas de Varsóvia, ocorre uma grande manifestação, de duzentos e quarenta mil pessoas, algo que nunca aconteceu, e logo a seguir ouvimos na TV, que foram apenas quarenta mil. A televisão é claramente "nacional", ou seja, pertencente a um grupo político, e com a rádio, também ocorre o mesmo.  Isto não é assim, que só polacos acreditam em diferentes coisas que anteriormente foram repetidamente feitas sob pressão. Os políticos do mundo sabem muito bem como fazer essas coisas.

Piotrowicz: Como o senhor percebe o papel do Comitê para a Defesa da Democracia?

WAJDA: Como uma chance para a Polônia, desde que sob condições, contudo, as manifestações de rua se transformem em uma organização que tenha chance de virar um partido político. Na minha opinião, precisa-se fazer tudo que seja possível, de modo como o ocorrido, mas que resista e não seja estéril e que não se resuma a se manifestar apenas para atender a consciência do remorso. "Eu estava na manifestação, o que mais posso fazer ...". Precisamos ser eficazes.
E até agora minha maior preocupação é que estamos sendo bem sucedidos. Estou contente que em nossa defesa se manifeste a Europa. Nós somos parte dela, e nossos homens, sentam-se entre aqueles que decidem sobre as questões europeias. Poder também agradecer enlouquecidas ideias nacionalistas e que seja encontrada, num futuro próximo não tão distante, uma resistência eficaz.

Piotrowicz: E sobre o futuro do cinema? Com que cores o desenha?

WAJDA: Difícil responder a essa pergunta ... Qual era a força do cinema? Comunidade. Sentamos no cinema, assistimos o mesmo filme, aqui rimos, ali choramos, em algum outro lugar, dizem "ah!".
Deixamos a sessão e estamos convictos que os outros pensam como nós. E quando vemos os mesmos filmes na TV em casa, com a família, ele já está pior. Alguém se cansa, alguém sai e alguém entra, porque sabe que neste lugar há algo engraçado. Apesar disso, alguma coisa de comunidade ali permaneceu. Dali instantes, veremos o mesmo filme,  que já assistimos, agora no telefone e isto já é a completa solidão. O cinema se transformou em um confessionário desprovido do espetacular.
Que batalhas aqui podem ser vistas, como eventos? Estas são apenas algumas palavras e pequenos rostos. Eu não vejo o cinema como espetáculo, e ainda assim é preciso muito para ser um espetáculo. O que me conforta e mantém vivo ... é que o público volta aos cinemas. Temos uma grande afluência e a maioria da plateia está assistindo filmes polacos. Portanto, há uma tela que necessita ouvir a língua polaca, conversa com atores polacos e que falam sobre nossos problemas, independentemente de se tratar de política ou moral. O cinema pode mostrar a realidade em vários aspectos.

Piotrowicz: No seu mais próximo filme, "Powidoki” (Imagens Residuais), o senhor vai contar a história do pintor Strzemiński.

WAJDA: Não tudo, porque a ação tem lugar entre 1948 e 1952 e mostra os últimos anos da vida de um artista muito especial que, em Łódź (pronuncia-se uúdji) fundou o segundo da Europa e terceiro no mundo, Museu de Arte Moderna.
Concentrei-me no momento mais difícil dele, quando estava, com toda veemência, entrando na Polônia, o realismo socialista soviético e ele confrontou-se com este realismo social, não só como pintor, mas também como educador. Vemos na sequência, como sua presença foi apagada e liquidada. É muito difícil para mim filmar, mas muito importante.

Piotrowicz: E o senhor já pensa no próximo?

WAJDA: Ao longo do próximo, pergunte-me, mas eu não digo ainda, o que virá.


Assista o que disseram outros diretores e o povo nas ruas:


Fonte: Onet.pl
Texto: Paweł Piotrowicz
Jornalista da área de música e filme

Tradução: Ulisses iarochinski

sábado, 4 de junho de 2016

Carta Aberta dos ucranianos aos polacos


Ex-presidentes da Ucrânia, chefes da Igreja Ortodoxa da Ucrânia - Patriarcado de Kiev e da Igreja greco-católica, artistas, intelectuais, escritores, políticos e ativistas sociais enviaram uma carta aberta aos líderes do Estado polaco e da sociedade polaca - pedindo perdão e reconciliação.


2 de junho de 2016

Queridos irmãos,

Aproximam-se os dias em que nos lembramos dos filhos e filhas caídos de nossas nações.

Na história das relações entre os ucranianos e polacos são muitos os exemplos de fraternidade, mas também não há falta de agitação sangrenta. Entre estes, um particularmente doloroso - tanto para o ucraniano e para o polaco - continua a ser a Tragédia da Volínia e o conflito polaco-ucraniano nos anos da Segunda Guerra Mundial, que matou milhares de irmãos e irmãs inocentes.

O assassinato de pessoas inocentes não é nenhuma desculpa.

Então, por favor, perdoe-nos pelos crimes cometidos e danos - esta é a principal mensagem da nossa carta.

Por favor, perdoe-nos, mas também, nós perdoamos os erros e crimes que cometeram contra nós, ucranianos. É a única fórmula espiritual, que deveria ser tema de cada coração ucraniano e polaco, desejando paz e reconciliação.

Assassinato, tortura, opressão nacional e religiosa, exploração social e deportação - estes são conceitos tão bem conhecidos por ambos nossos povos. Nós os conhecemos e lembramos.

Até agora, enquanto vivam nossas nações, até o momento em que vão nos machucar essas feridas históricas. Nossos povos viverão somente se, apesar do passado, possamos aprender a nos relacionar uns com os outros com respeito, como irmãos e iguais.

O maior mal em nossas mútuas relações foi a desigualdade, que resultava da inexistência do Estado ucraniano. Com inevitável consequência em cada catástrofe do Estado ucraniano, a qual sempre conduziu à ruína e ao colapso do Estado polaco. Essa regularidade trágica é uma espécie de axioma em nossas relações ucraniana-polacas.

O Estado ucraniano ainda tem que determinar plenamente sua atitude mais adequada e mais digna em relação à essas experiências passadas, em suas causas e a sua responsabilidade própria nisto, o que houve e o que virá.

Na consciência polaca deveria contudo, ser pleno o reconhecimento sobre a especificidade da tradição nacional ucraniana, com o seu justo e digno respeito pela seriedade da luta por um Estado totalmente independente e soberano. - Nos aceitar uns aos outros e, finalmente, outra ação - a do pensamento e do coração.

Vamos, finalmente, erigir o monumento mais importante para nossos povos, que não existiram em panteões locais, mas sim o gesto da mão estendida um para o outro.

A atual guerra da Rússia contra a Ucrânia amarrou ainda mais nossas nações. Com sua beligerância contra a Ucrânia, Moscou leva também a agressão contra a Polônia e todo o mundo livre.

Hoje, destacamos com particular força, o desejo de sensibilizar políticos de ambos países contra o discurso do ódio e demonstração de hostilidade, que poderiam minar o imperativo do nosso perdão e da compreensão cristã. Há obviamente uma necessidade de retratar o passado trágico, embora o uso da dor comum para uma solução política só vai levar à recriminações infindáveis. Injusto, o mal sempre e sempre voltará contra sepulturas, contra a memória e contra o nosso futuro.

Apelamos aos nossos aliados, as lideranças polacas do Estado e aos parlamentares, abster-se de quaisquer declarações políticas precipitadas e resoluções que, afinal de contas, não aliviarão a dor, mas apenas vai permitir que nossos inimigos comuns usem isso contra a Polônia e a Ucrânia. Não tenhamos ilusões: o estigma hostil da palavra está tão incorporado em nossas comunidades.

Lembremo-nos igualmente, que Kiev e Varsóvia - é um flanco oriental estratégico de resistência para toda a Europa. Temos de perceber que o exemplo de nosso mútuo compromisso poderá se tornar modelo para todo o território europeu.

Na véspera de eventos relacionados às comemorações dos nossos dramas históricos, que terão início em julho, em ambos os países, apelamos para que não retornemos às tradicionais declarações parlamentares que nos dividem e nos unem – façamos isso num espírito de arrependimento e perdão. Dirijamo-nos fraternalmente, apelamos para o estabelecimento de um dia comum de recordação das vítimas do nosso passado com um sentido de fé para que o mal nunca mais volte.

Eterna e digna de memória, nossas realizações também dependem do pleno e sábio entendimento pleno entre nós - alcançado permanentemente e para sempre.

Acreditamos que a nossa voz será ouvida na sociedade polaca.

Os signatários da carta:

Leonid Kravchuk, Presidente da Ucrânia entre 1991-1994

Viktor Yushchenko, presidente da Ucrânia entre 2005-2010

Patriarca Filaret para toda a Rússia e Ucrânia - chefe da Igreja Ucraniana Ortodoxa do Patriarcado de Kiev

Sviatoslav Shevchuk, o arcebispo supremo da Igreja Ucraniana Ortodoxa Greco-católica

Vyacheslav Bruchoweckij estudioso de literatura, reitor honorário da Universidade Nacional - Kyiv-Mohyla Akademia.

Ivan Wasiunik – Co-presidente social da Memória do Holodomor e genocídio dos anos de 1932 a 1933, e vice-primeiro-ministro da Ucrânia em 2007-2010.

Ivan Dziuba, acadêmico, literário, ativista social.

Danylo Lubkiwskij, representante do ministério das relações exteriores da Ucrânia (2014)

Dmytro Pavlychko, poeta, político, ativista social, embaixador extraordinário e plenipotenciário.

Volodymyr Panchenko, crítico literário, escritor, professor da Universidade Nacional na "Kyiv-Mohyla Akademia".

Myroslav Popovych, acadêmico, filósofo, diretor do Instituto Grygorija Skovoroda.

Vadym Skuratiwskij, historiador de arte, crítico literário, professor da Academia Nacional de Artes da Ucrânia.

Ihor Juchnowskij, acadêmico, primeiro diretor do Instituto Ucraniano da Memória Nacional.

Publicada no jornal Gazeta.ua

http://gazeta.ua/articles/life/_ukrayinci-napisali-list-pokayannya-i-proschennya-do-polskogo-suspilstva/702070

Tradução: Ulisses Iarochinski

sexta-feira, 3 de junho de 2016

Governo PiS quer desmatar Floresta Białowieża

Foto: David Levene/The Guardian
Agora o ministro do meio ambiente Jan Szyszko quer que a UNESCO altere o status da única floresta intacta do continente europeu (7 milhões de anos) de Białowieża de "natural" para "cultural". A floresta de 100 km2, fica a 62 Km da cidade de Białystok.

ministro Jan Szyszko
Na verdade, o que quer o governo do PiS (partido de extrema-direita) é começar um desmatamento desnecessário deste santuário da humanidade. Já há registros de corte de árvores nas divisas da floresta com os campos particulares mais próximos. Floresta que se estende além fronteira, até no território da Bielorrússia.

O ministro alega que é preciso "retirar" 60 mil abetos vermelhos mortos das trilhas e caminhos da floresta. Sua decisão de adotar novas medidas de seu plano de manejo florestal, aumentará significativamente o limite de corte em Białowieża, em desacordo com os compromissos internacionais.

A UNESCO expressou repetidamente preocupação com esta situação criada pelo governo atual da Polônia. O abeto é uma grande árvore conífera atingindo uma altura de 30 a 50 metros e um diâmetro de tronco de 1 a 1,5 m. A característica deste pinheiro é a sua copa piramidal, muito regular. Pode chegar a 70 m de altura.
Árvores caídas naturalmente
Após grande tempestade que caiu sobre a Floresta no final do ano passado, o atual governo propôs um aumento radical na colheita de madeira na área. O plano de gestão para a década 2012-21 sugere que o limite de corte de 63,4 mil de metros cúbicos de madeira durante 10 anos  seja aumentado para cerca de 320 mil de metros cúbicos.

"Tília cordata" caída naturalmente - Foto: David Levene/The Guardian
Adam Wajrak
No final de março último, o ministro do Meio Ambiente já tinha aprovado o limite de elevação para 188 mil metros cúbicos. Em três áreas florestais de exploração econômica próximas as localidades de Hajnówka, Bialowieża, Browsk foram definidas áreas de referência onde não vão ser aplicadas medidas de proteção.

Segundo o naturalista e jornalista Adam Wajrak, a decisão de março provocou indignação na comunidade científica, bem como ambientalistas. Especialistas mundiais protestaram contra os planos do PiS incluindo biólogos das universidades de Varsóvia e da Universidade Iaguielônica de Cracóvia.

Ação dos exploradores - Foto: David Levene/The Guardian
Em seu parecer, Wjarak enfatizou que um maior estiramento e a substituição da regeneração natural da floresta com o plantio de composição de espécies das florestas desenvolvidos por necessidade econômica para justificar o corte da floresta de Białowieża como regras normais de manejo florestal e extensão da sua proteção como um parque nacional é improcedente.

Corte nas áreas próximas - Foto: David Levene/The Guardian
Wajrak apresentou dez argumentos, segundo os quais as Florestas Estatais e suas degradações sejam naturais ou causadas por insetos não ameaçam o meio ambiente destas áreas preservadas, já que são seu elemento natural e fator importante na preservação destas florestas naturais. "A única coisa que ameaça é o caruncho e os exploradores de madeira. Os madeireiros (exploradores de madeira) não querem concordar com isso. Mas são eles que matam as árvores na floresta. Assim, desde logo, o que a floresta precisa é ser tomada pelas mãos de silvicultores que tenham "carinho" e desejo de que tudo seja protegido", diz o naturalista.

Floresta
Puszcza Białowieska foi declarada propriedade do rei por Władysław Jagiełło que usou madeira dali para armar o exército polaco contra os saxônicos da maior guerra da idade média, a Batalha de Grunwald.
Em 1538, o rei Sigismund baixou um decreto penalizando quem matasse os bisões da Floresta.
Em 1541, o rei polaco declarou a floresta área de preservação permanente.

Durante a I Guerra mundial os alemães tentaram destruir a floresta e exterminar os bisões. Durante os três anos de ocupação germânica foram construídos ali 200 km de estrada de ferro.

A reserva foi inscrita na Lista do Patrimônio Mundial, em 1992, e reconhecida internacionalmente como uma Reserva da Biosfera no âmbito da UNESCO e no Programa O Homem e a Biosfera em 1993.

Bisões
A floresta de Białowieża (click para ouvir a pronúncia correta em polaco do nome da floresta) de que abriga cerca de 12 mil espécies vegetais além de 1500 espécies de fungos e cogumelos é também uma das duas áreas na Polônia onde ainda vivem os últimos Żubrbisões europeus (a outra reserva é em Niepołomice a 20 km de Cracóvia). São 800 bisões vivendo em harmonia com a natureza do Nordeste da Polônia, próximos a cidade de Hajnówka.

Bisões de Białowieża - Foto: David Levene/The Guardian

quinta-feira, 2 de junho de 2016

Por que Papa Francisco escolheu Cracóvia?

Três anos atrás, no Rio de Janeiro, o Papa Francisco anunciou que a próxima Jornada Mundial da Juventude seria realizada em Cracóvia, na Polônia.
Santuário da Divina Misericórdia Irmã Faustina Kowalska - Lagiewniki em Cracovia
Para muitos jovens, foi um momento de júbilo, mas outros ficaram confusos: onde é a Polônia? Não é frio demais por lá?

Cada vez que o papa escolhe um local para a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), ele pensa em dar destaque a um tema específico. E o tema da JMJ marcada para o mês de julho próximo nasceu desta afirmação de Jesus:

“Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia” (Mt 5, 7).

Não é surpresa nenhuma que o Papa Francisco queira chamar a atenção para a misericórdia durante este Ano Jubilar. E que lugar seria melhor para isso do que Cracóvia, a terra que nos deu a devoção à Divina Misericórdia? Foi por isso que o Santo Padre escolheu ninguém menos que São João Paulo II e Santa Faustina Kowalska para serem os padroeiros da JMJ de julho deste ano.

O Papa Francisco fez um breve comentário sobre estes dois santos e sobre a escolha de Cracóvia em uma mensagem do ano passado:

“Cracóvia, a cidade de São João Paulo II e de Santa Faustina Kowalska, está esperando por nós de braços e coração abertos. Eu acredito que a Providência Divina nos levou à decisão de celebrar o Jubileu da Juventude naquela cidade, que foi lar desses dois grandes apóstolos da misericórdia em nossos tempos. João Paulo II percebeu que este é o tempo da misericórdia.
No início de seu pontificado, ele escreveu a encíclica Dives in Misericordia (Rico em Misericórdia). No Ano Santo de 2000, ele canonizou a Irmã Faustina e instituiu a Festa da Divina Misericórdia, no segundo Domingo de Páscoa.
Em 2002, ele inaugurou pessoalmente o Santuário da Divina Misericórdia em Cracóvia e confiou o mundo à Divina Misericórdia, no desejo de que esta mensagem chegasse a todos os povos da terra e enchesse os seus corações de esperança: ‘Esta centelha precisa que a graça de Deus a acenda. Este fogo da misericórdia tem de ser passado para o mundo. Na Misericórdia de Deus, o mundo encontrará a paz e a humanidade encontrará a felicidade!’. Queridos jovens! No Santuário em Cracóvia, dedicado a Jesus Misericordioso, onde Ele é retratado na imagem venerada pelo povo de Deus, Jesus está esperando por vocês”.

Capela de Jesus Misericordioso - com o quadro inspirado nas visões de Faustina Kowalska e pintado por Eugeniusz Kazimirowsk sob orientação do padre Michał Sopocko
Muito tem sido escrito sobre São João Paulo II, Santa Faustina e seu exemplo inspirador de santidade. No entanto, poucos dos que irão à Polônia para a JMJ conhecem a história e a cultura extraordinárias em que se formaram esses dois santos. Eles não cresceram no vácuo: foram formados desde cedo pela rica cultura polaca.

Na primeira viagem à sua terra após eleito papa, São João Paulo II exortou os jovens a manterem viva a sua herança cultural, dizendo:

“Desde as suas origens, a cultura polaca traz em si claríssimos sinais cristãos… A inspiração cristã continua a ser a principal fonte de criatividade dos artistas polacos.
A cultura polaca ainda flui numa ampla corrente de inspirações cuja fonte é o Evangelho. Isto contribui também para o caráter profundamente humanista desta cultura: ele a torna tão densa e autenticamente humana. Vocês estão ouvindo estas palavras de um homem que deve a própria formação espiritual, desde o início, à cultura polaca, à sua literatura, à sua música… ao seu teatro; à história polaca, às tradições cristãs polacas, às escolas polacas, às universidades polacas.
Ao falar com vocês, jovens, desta forma, este homem deseja, acima de tudo, pagar a dívida que tem com esta maravilhosa herança espiritual. Permaneçam fiéis a esta herança. Façam dela o alicerce da sua formação. Sejam nobremente orgulhosos dela. Mantenham esta herança e multipliquem-na; entreguem-na às gerações futuras”.

Texto: Philip Kosloski

terça-feira, 31 de maio de 2016

Zapiekanka: o sanduíche da Polônia

Os sanduíches mais comuns na Polônia são conhecidos como zapiekanki (plural) ou zapiekanka (singular), que se pronuncia (zá-pié-KAN-ká).



A palavra vem de zapiekanka do verbo zapiekać, que significa "assar".

A maioria dos zapiekanki é feito com pão meia baguete (pão francês grande), cogumelo silvestre (borowik) salteado (conhecido, na Itália, como funghi porcini e em Portugal por tortulho), queijo, creme de tomate (ketchup) e salsinha ou cebolinha picada. Esta receita é a mais simples e por isso mesmo chamada de Zapiekanka Zwikła.


Mas há zapiekanka de vários outros tipos, com ingredientes como pepino azedo, abacaxi, azeitonas, queijo feta, queijo oscypek (polaco com denominação de origem feito com leite de ovelha e defumado) e muitos mais.

Na tabela, ao lado, numa zapiekankarnia, os diversos tipos:

a) com cebolinha picada
b) clássica
c) com cebola assada
d) com queijo montanhês
e) duplo com queijo
f) com espinafre
g) com presunto
h) com salame 

O que faz deste sanduíche uma autêntica iguaria polaca é o modo de fazer. E é claro, ele tem que ser servido um "piwo" (cerveja) polaco do melhor sabor (cervejas Żywiec, Tyskie, Żubr, Lech, Okocim, Warka, Dębowe, Tatra e etc)!


RECEITA

1. Corte o baguete ao meio
2. Unte uma frigideira com azeite
3. Lave os cogumelos e corte-os
4. Refogue os cogumelos com cebola, açafrão, pimenta vermelha e pimenta preta até ficarem macios
5. Pré-aqueça o forno em 148º graus
6. Em cada metade do baguete, espalhe o cogumelo refogado
7. Polvilhe com queijo ralado à gosto
8. Coloque no forno e asse até que todo o queijo esteja derretido, por cerca de 5 minutos
9. Retire do forno e espalhe o ketchup e salsinha ou cebolinha (cheiro verde) picada sobre ele e coma ainda quente.



Um zapiekanka de 20 a 25 cm de comprimento custa em média 5 a 10 złotych, nas ruas de Cracóvia, principalmente na praça central do bairro judeu do Kazimierz.

Várias "Zapiekankarnia", na Prac Nowy, no bairro do Kazimierz / Cracóvia

sexta-feira, 20 de maio de 2016

Auschwitz: encontradas jóias em fundo falso de caneca

"Temos muitos achados, mas este é especial pela forma como as jóias foram escondidas", disse o porta-voz do museu, Paweł Sawicki.

Foto: Jacek Bednarczyk - EPA/POLAND OUT
O museu de Auschwitz anunciou ter encontrado um anel e um colar de ouro escondidos por um preso no fundo falso de uma caneca, encontrada no antigo campo de concentração e exterminação Alemão nazista.

Mais de 70 anos depois da libertação do campo, no fim da Segunda Guerra Mundial, na Polônia ocupada, os funcionários do campo encontraram as jóias numa caneca de esmalte enferrujada, um de milhares de utensílios de cozinha  em exibição no museu.

Foto: Jacek Bednarczyk - EPA/POLAND OUT

"Temos muitos achados, mas este é especial pela forma como as jóias foram escondidas", disse o porta-voz do museu, Sawicki.

"Não verificamos todos os milhares de utensílios de cozinha... mas conseguimos encontrar as jóias porque o fundo falso se separou da caneca original", acrescentou.
Paweł Sawicki

O colar estava embrulhado num pedaço de pano, juntamente com o anel de mulher. Sawicki afirmou ser impossível chegar a identificar o dono: "Alguém que acreditou na mentira alemã-nazista, usada nas deportações para Auschwitz".

Muitos deportados trouxeram os seus bens para Auschwitz porque os alemães-nazistas prometeram realojamento e novas vidas, mas todos os bens pessoais eram retirados logo na chegada e antes de serem enviados para as câmaras da morte.

"Podemos perceber o medo da pessoa por ter escondido suas jóias. O que significa que sabiam dos roubos. Mas, ao mesmo tempo, também podemos ver a esperança de sobreviver", disse Sawicki.

Ainda segundo Sawicki, as inscrições nas jóias atestam que elas foram fabricadas na Polônia aproximadamente entre os anos 1921-1931. Muito provavelmente a caneca deveria pertencer a uma mulher polaca que foi vítima do Holocausto.

"Os fascistas escondiam intencionalmente a verdade, dizendo às pessoas que elas seriam deportadas para trabalhar em lugares menos perigosos. Estas pessoas levaram consigo algumas coisas preciosas que pudessem lhes ajudar no 'novo lugar' e as esconderam porque sabiam que os nazistas roubariam tudo. Este achado é um exemplo daquelas histórias", conclui Sawicki

Um milhão e meio de europeus de origem judaica morreu entre 1940 e 1945 no campo de Auschwitz, no sul da cidade de Oświęcim. Mas também cerca 220 mil outras pessoas, incluindo polacos católicos, protestantes, ciganos, prisioneiros de guerra soviéticos e membros da resistência anti-nazista morreram em Auschwitz, de acordo com o Museu.

No ano passado, no 70.º aniversário da libertação do campo pelas tropas soviéticas, um número recorde de 1,72 milhões de pessoas visitou Auschwitz.

quinta-feira, 19 de maio de 2016

Cientistas polacos criam vacina contra diabetes 1

Cientistas de Gdańsk desenvolveram uma terapia que ajuda a impedir o desenvolvimento de diabetes tipo 1. Esta é uma descoberta excelente!
dr hab. Natalia Marek-Trzonkowska, Prof. Piotr Trzonkowski e Profa. Małgorzata Myśliwiec
Não só é um inovador regulador de células-T como terapia, desenvolvida por cientistas da Universidade de Medicina de Gdańsk (Gdański Uniwersytet Medyczny, GUMed) para prolongar o período de remissão em pacientes com diabetes tipo 1, como também ajuda a evitar complicações perigosas ligadas a visão ou aos rins.

O sucesso dos cientistas Gdańsk já está demonstrado pela saúde das 30 crianças que participaram da experiência médica deles com duração de três anos. Hoje, alguns dos pacientes não precisam tomar insulina, enquanto outros passaram a tomar doses muito menores.

São de pacientes jovens que se está falando, e de como o diabetes tipo 1 afeta principalmente as crianças. A doença se desenvolve mais frequentemente em crianças e envolve a destruição progressiva das células que produzem insulina.
O corpo perde a capacidade de produzí-lo, e os pacientes têm de tomar o hormônio através de injeções. Caso contrário, correm o risco de morte.
O diabetes tipo 1 se desenvolve como resultado de um processo auto-imune crônico, e é isso que a terapia inventada em Gdańsk foi projetada para impedir.

Universidade de Medicina de Gdańsk / Gdański Uniwersytet Medyczny - GUMed
Os pesquisadores por trás da descoberta da terapia inovadora - os imunologistas Prof. Piotr Trzonkowski, dr hab. Natalia Marek-Trzonkowska, bem como diabetologista e pediatra Profa. Małgorzata Myśliwiec - chamaram seu projeto de "Szczepionka Tregs" (Vacina para células T reguladoras) e os meios de comunicação apelidaram de uma "vacina para o diabetes".

De fato, a terapia funciona como um transplante autólogo e utiliza as células do próprio organismo para evitar a doença. "Nós tiramos 250 ml de sangue da criança e separamos aproximadamente 1000 células T reguladoras, as que regulam o processo de resposta imunológica para outras células do mesmo sistema. Em seguida, multiplicamos por várias centenas de milhões e após duas semanas implantamos de volta no corpo, o que acaba por retardar ou impedir a autodestruição das ilhotas pancreáticas", Krzysztof Chlebus, PhD, representante da reitoria GUMed para o setor de inovações.

Krzysztof Chlebus / ex-vice Ministro da Saúde
Esta é a primeira solução de tal tipo no mundo, no entanto, está dirigido a um grupo restrito de pacientes. "O projeto é direcionado a um grupo especial de pacientes com diabetes tipo 1 - aqueles que pesam mais de 30 kg. À medida que a doença se desenvolve, principalmente, em crianças, concentramo-nos em sua primeira fase, de forma otimizada nos primeiros meses, o grupo se reduz a 8, crianças de 9 anos, no mínimo", especifica o Dr. Chlebus. De acordo com dados epidemiológicos, há entre 250 e 400 pacientes assim na Polônia, e cerca de 1000 pacientes jovens com diabetes tipo 1, no total.

Até agora, o estudo tem sido apenas uma experiência médica. Os cientistas estão solicitando financiamento do Fundo Nacional de Saúde, com a meta de continuar a investigação e o tratamento das crianças. Os cientistas precisam de um novo laboratório e pelo menos vários leitos clínicos.

"Estamos trabalhando em uma nova fórmula que nos permita comercializar o empreendimento. Estamos solicitando bolsas, buscando investidores interessados ​​em cooperar a longo prazo, cujo envolvimento tornaria possível aproveitar os subsídios do Centro Nacional de Investigação e Desenvolvimento ", explica o Dr. Chlebus.

Texto: Karolina Kowalska
Portal: Poland.pl do Ministério de Relações Exteriores da Polônia
Tradução: Ulisses Iarochinski

quarta-feira, 11 de maio de 2016

Família polaca hospedará 300 jovens da JMJ

Karolina, Małgorzata, Robert, o padre Kania e Jakub.
Neste terreno que serão montadas as tendas para os peregrinos - Foto: DR

Para a última missa da Jornada Mundial da Juventude, em Cracóvia, são esperados dois a três milhões de pessoas.

A casa da família Wolski, com dois andares, mais um daqueles sótãos enormes dos países onde os telhados têm de suportar a neve, não destoa das outras de Bolechowice. Sem ser luxuosa, vê-se que pertence a gente desafogada, como muitos dos vizinhos que fugiram da confusão de Cracóvia, com o seu quase um milhão de habitantes, para se instalar aqui no meio do campo, a meia hora de carro da cidade.

Bolechowice está próximo do canto superior esquerdo e a Nordeste de Cracóvia
Muitos são professores, médicos, quadros, "todos bons católicos", explica o padre Michał Kania, de 30 anos, enquanto bate à porta dos Wolski, famosos estes dias por se terem oferecido para acolher 300 jovens que em final de julho virão participar na Jornada Mundial da Juventude e ver o Papa Francisco.

É Robert, o pai, que aparece. Dá as boas-vindas e chama a mulher e a filha para serem apresentadas ao grupo de jornalistas que querem saber como se tem coragem para acolher tanta gente de fora durante uma semana. Entretanto, o padre já tinha explicado que a casa da família não era um palácio com centenas de quartos e que seria no quintal que os peregrinos seriam instalados "com muito carinho".

Robert Wolski, que tem 41 anos e é dono de uma empresa de construção, aponta para o meio hectare de grama onde serão instaladas as 30 tendas para dez pessoas cada. "São emprestadas pelos militares, sem qualquer custo, que também virão cá montá-las e desmontá-las", diz Robert.

Fundos da Paróquia

Fala só em idioma polaco, e é preciso tradução, o que torna ainda mais surpreendente este desejo de ser anfitrião de um grupo que virá da Alemanha e da Áustria. "Com boa vontade, muito esforço e a ajuda de Deus conseguimos tudo", afirma este homem que, como o próprio contou, chegou a ser bombeiro, teve um problema de alcoolismo e estava a deixar a vida afundar-se quando em 2005, sabendo do sofrimento dos últimos dias de João Paulo II, tomou a decisão de nunca mais tocar em álcool. "Até hoje", garante, tendo ao lado Małgorzata (pronuncia-se maugójata, de 40 anos, com quem está casado há 20 mas que conhece desde sempre. "Íamos à escola juntos", explica.

Área que vai abrigar as barracas
A filha Karolina tem 14 anos e fala razoavelmente inglês. Também sabe um pouco de alemão, o que será útil quando chegarem os convidados da família. "Estou a esforçar-me por melhorar o meu alemão", diz Karolina.
O irmão Jakub, de 19 anos, chega, vem de terno e gravata porque, explica o pai, "é o motorista não oficial da paróquia" e acabou de conduzir dois noivos da igreja até casa. "É também o nosso fotógrafo", acrescenta a rir-se o padre Kania. Quanto à paciência da vizinhança? "Não há problema", asseguram os Wolski: de um lado "são primos", do outro lado "muito boas pessoas".

A Jornada Mundial da Juventude decorrerá entre 26 e 31 de julho. O Papa chegará a Cracóvia na quarta-feira, dia 27, e terá um programa intenso, com encontro com as autoridades no Castelo de Wawel, várias missas até à última, domingo, onde se prevê dois a três milhões de pessoas.
Francisco irá ainda a Auschwitz, campo de concentração e extermínio alemão nazista que foi também visitado pelos antecessores imediatos, o polaco João Paulo II e o alemão Bento XVI.
E, claro, como sublinhou o cardeal Stanisław Dziwisz, que foi secretário pessoal de João Paulo II, o Papa "irá a Częstochowa" (pronuncia-se Tchentorróva), onde desde a Idade Média se venera a Madona Negra.
Com cinco milhões de visitantes anuais, é uma espécie de Fátima da Polônia, país de forte tradição católica, com um presidente assíduo na missa e uma primeira-ministra com um filho quase padre.

Portão "Brama" do Vale de Bolechowice
Até este momento, há 300 mil inscrições para a Jornada Mundial da Juventude, com os maiores grupos estrangeiros a virem de Itália e de França. "Venham. A Polônia é um país seguro, hospitaleiro e amigável", desafia o cardeal de Cracóvia.

SEGURANÇA GARANTIDA
E sobre as questões de segurança, que vão obrigar a um controlo das fronteiras de 2 de julho a 2 de agosto, o governador da região de Małopolska tem um discurso tranquilizador. "Sobre segurança, falamos o menos possível e fazemos o máximo possível. Queremos dizer aos jovens que se devem sentir bem aqui, que são bem-vindos, que podem vir estar com o Papa. À nossa maneira, discreta, vamos garantir que nada de mal acontece", disse Józef Pilch, num encontro em Cracóvia.
Além da visita do Papa, julho será o mês em que a capital polaca, Varsóvia, acolhe a Reunião de Cúpula da OTAN, com a vinda de muitos estadistas, incluindo o americano Barack Obama.

O logotipo desta Jornada já está por todo lado em Cracóvia. Será a segunda vez para o Papa argentino, depois do Rio de Janeiro, em 2013.
Robert Wolski está ansioso por ver o Papa. Terá várias oportunidades. O altar a ser montado num parque de Cracóvia para a última missa tem 11 metros de altura e o Papa será visível a dois quilômetros.

"Francisco é latino e João Paulo II era eslavo, mas não acho que sejam assim tão diferentes. Ambos insistem na misericórdia", comenta o antigo bombeiro, insistindo para os jornalistas ficarem para jantar. Ao entrar em casa, sublinha que alguns dos jovens vão ficar lá, pelo que na verdade até serão um pouco mais de 300, os convidados da família.

Graças à experiência de empresário, Robert arranjou quem fornecesse as refeições, com Małgorzata a supervisionar. Também estão garantidas as casas de banho móveis e uma zona de duchas para banho. Mas se os Wolski dão nas vistas por receberem tanta gente, há uma outra habitante de Bolechowice que também se destaca por receber um bispo. "É o francês Olivier de Germay, bispo de Ajaccio", revela o padre Kania.

Texto: Leonídio Paulo Ferreira 
Jornal "Diário de Notícias", Lisboa

sexta-feira, 6 de maio de 2016

As valas comuns de Adampol, na Polônia

Foto: Natalie Keyssar/The New York Times - o jovem Jan Pomeranc
Durante a infância de Michael Pomeranc em meados dos anos 60 no bairro de Rego Park, no distrito de Queens, seus pais e os amigos deles passavam incontáveis noites discutindo suas terríveis experiências na Segunda Guerra Mundial. Todos eram sobreviventes do Holocausto e Pomeranc os via com frequência fumando sem parar e chorando até tarde da noite. A ausência de qualquer coisa tangível em suas histórias era o que mais o atormentava.

Michael Pomeranc
"Não conseguir entender para onde todos foram foi muito, muito traumatizante", disse recentemente Pomeranc, 58 anos, um hoteleiro proeminente de Nova York, sentado no lobby de seu hotel, o Sixty SoHo. "O que aconteceu com os cemitérios dos meus bisavós? Onde estão meus avós e minhas tinhas? É possível ir lá? É possível ver algo? Era como se estivessem conversando em um abismo."

Sixty Soho Hotel
A família Pomeranc é conhecida nos círculos imobiliários de Nova York. Jan Pomeranc chegou aos Estados Unidos depois da guerra e fez fortuna construindo imóveis residenciais e hotéis próximos do aeroporto, principalmente em Nova Jersey. Atualmente com 88 anos, ele ainda segue com frequência de seu apartamento na Quinta Avenida até seu escritório em Fort Lee. Seus filhos, Larry, Michael e Jason, o mais jovem e uma presença frequente nas páginas de moda, construíram uma rede nacional de hotéis-butique que atraem celebridades.

Mas o passado sempre esteve com eles, particularmente com Michael, que passou quase três décadas trabalhando para descobrir o destino de seus parentes assassinados, vistos pela última vez em Adampol, uma cidade rural polaca próxima de Bielorrússia. Nos anos 90, ele começou a analisar registros históricos e a rastrear pistas pela Europa. Mas foi apenas neste ano, quando Caroline Sturdy Colls, uma arqueóloga forense contratada por ele, concluiu três anos de pesquisa, que seus esforços o levaram de volta a Adampol.

Caroline Sturdy Colls
Em janeiro, Sturdy Colls, uma professora associada de arqueologia forense e investigação de genocídio da Universidade de Staffordshire, na Inglaterra, publicou a primeira investigação plena de Adampol. Segundo as descobertas dela, até 1.000 polacos de origem judeus vítimas do Holocausto estão enterrados ali em valas comuns, sob terras agrícolas, bosques, lixão e um campo de tiro. Graças a Pomeranc, agora esforços estão em andamento para o erguimento de um monumento e tombamento do local.

"Adampol é significativa", disse Paul Shapiro, diretor do Centro Jack, Joseph e Morton Mandel para Estudos Avançados do Holocausto, no Museu Memorial do Holocausto dos Estados Unidos, em Washington. "Realmente saber, e não imaginar, onde se encontram esses lugares é importante. E é claro que isso gera a pergunta: assim que sabemos, o que o mundo fará a respeito?"

Nos últimos anos, pesquisadores descobriram uma vasta rede de mais de 42 mil campos e guetos nazistas relativamente desconhecidos, muitos dos quais ficavam atrás da Cortina de Ferro ou tiveram poucas testemunhas sobreviventes que pudessem contar suas histórias. A maioria dos locais permanece não marcada, abandonada e mal documentada. As tentativas de marcar essas áreas estão aumentando e são com frequência controversas.

"A verdade é que hoje, em alguma cidade pequena, alguém decide construir um supermercado e quando começa a cavar, encontra restos mortais", disse Shapiro. "A menos que algo seja feito, existe a perspectiva de restos mortais de vítimas do Holocausto ficarem simplesmente espalhados pelo continente europeu com, no final, alguma construção sobre eles."

A preservação de uma área como memorial pode ser um processo complexo que exige a cooperação das autoridades locais e do governo polaco. O rabino chefe da Polônia, Michael Schudrich, que também precisa aprovar, está no momento analisando as descobertas em Adampol.
Adampol não tem importância apenas para a família Pomeranc. Sobreviventes se estabeleceram em vários países, incluindo o Reino Unido, Canadá e Israel, e muitos desde então voltaram a ter contato via Facebook e outros canais online.

"Adampol foi uma catástrofe horrível, mas da qual ninguém ouviu falar", disse Helen Maryles Shankman, que vive em Teaneck, Nova Jersey.

Adampol possuía uma propriedade rural de um magnata polaco, que foi convertida durante a guerra em um campo de trabalho escravo. Os polacos de origem judaica trabalhavam os campos da propriedade e dormiam nos celeiros e estábulos.

No início, os polacos-judeus das áreas ao redor seguiram para Adampol, movidos pela noção equivocada de que era mais segura do que permanecer nas cidades e guetos, onde as execuções e deportação para o campo de extermínio de Sóbibor eram cada vez mais comuns. Como muitos outras, a família Pomeranc, incluindo Jan (Jack nos EUA), seus pais e cinco de seus irmãos, buscaram refúgio lá (uma irmã mais velha, Chaja, tinha fugido antes para Bielorrússia).

Palácio Myśliwski do magnata Konstant Zamoyski nos arredores de Adampol
Adampol revelou não ser o refúgio que a família Pomeranc esperava. As condições no campo eram inegavelmente duras, com horas intermináveis de trabalho braçal e rações magras. A ameaça constante de fuzilamentos em massa era o mais assustador. "Tínhamos medo a cada minuto de cada dia", disse Jan Pomeranc. "Em intervalos de poucos meses ocorriam fuzilamentos. Nunca sabíamos quando. Eles apareciam de repente e todos tentavam fugir e se esconder. Tínhamos sorte da floresta ficar próxima."

Para fornecer um pouco de conforto ao seu pai e algum encerramento para si mesmo, Pomeranc decidiu descobrir o máximo que podia sobre a família. Ele pesquisou certidões de nascimento, documentos escolares e outros documentos pessoais. Ele contratou pesquisadores para entrevistar os moradores de Adampol e vilarejos onde sua família viveu antes da guerra. Ele ofereceu recompensas (sem que se fizesse perguntas) caso itens que antes pertencentes a polacos-judeus fossem devolvidos. Ele conseguiu encontrar algumas poucas fotografias, mas nada mais.

Então Pomeranc contratou Sturdy Colls, que realizou uma pesquisa semelhante em Treblinka, outro campo de extermínio nazista na Polônia. Como a lei judaica proíbe que os mortos sejam perturbados, escavações arqueológicas em sítios do Holocausto não são possíveis. Em vez disso, ela analisou milhares de páginas de julgamentos pós-guerra, depoimentos de testemunhas e documentos do governo, revelando histórias da vida no campo e os assassinatos que ocorreram lá.

Ela visitou Adampol, na esperança que encontrar evidência a olho nu e foi bem-sucedida. "Ao lado de um dos prédios alguém abriu um buraco para um cano de escoamento e havia ali no solo fragmentos de ossos queimados que eram fáceis de ver, assim como era possível ver que havia ossos adicionais, de forma que provavelmente foram espalhados", ela disse.

Sturdy Colls também empregou tecnologias avançadas como detecção e medição de distância por luz, ou Lidar, que dispara pulsos de raio laser de sensores montados em uma aeronave ou satélite para medir a altura da superfície, produzindo mapas tridimensionais detalhados. Ela descobriu várias grandes depressões indicando valas comuns e uma área onde as sepulturas estavam perfeitamente alinhadas em fileiras. "Acho que pode haver na região entre 800 e 1.000 valas comuns, talvez mais", ela disse.

Apesar de Sturdy Colls ter concluído seu relatório, Pomeranc gostaria que ela voltasse a Adampol para descobrir provas mais definitivas das valas comuns. Mas primeiro precisam obter aprovação de Schudrich.

"As pessoas perguntam, porque revolver tanto esse passado?" disse Pomeranc. "A verdade é que nunca deixamos o passado. Nunca conseguimos deixar totalmente para trás os campos de extermínio, os partidários e as florestas."


The New York Times
Julie Satow
Nova York (EUA)
tradução:George El Khouri Andolfato

quinta-feira, 5 de maio de 2016

Palavras polacas 1


Pronúncia das palavras:

Koszulka = cóchulca
Sukienka = çuquienca
Spódnica = spudtssa
Buty = bu
Adidasy = adissê
Krawat = crávat
Szorty = chórtê
Spodnie = sdnié
Dżinsy = djinsê
Płaszcz = puáchtch
Szalik = chálik
Koszula = cóchúla
Kapelusz = cáluch
Skarpety = scár
Rękawiczki = rencávitchqui
Czapka = tchápca
Żakiet = jaquiét
Marinarka = márinár
Skafander kosmiczny = scáfander cósmitchnê
Sweter = stér

Sílaba tônica
As sílabas sublinhadas acima, na pronúncia, são as fortes, tônicas e os acentos é para indicar que são vogais abertas (agudo) e fechadas (circunflexo). A maioria das palavras polacas são paroxítonas, portanto, a sílaba forte é a penúltima. Excessão feita às palavras de origem latina, ou estrangeirismos.